O número de grávidas com HIV no Brasil vem crescendo desde 2008, de acordo com os últimos dados do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids divulgados pelo Ministério da Saúde.  No entanto, é importante enfatizar que dados do Relatório de Monitoramento Clínico lançado também pelo Ministério da Saúde em dezembro de 2019, mostra que a maioria dessas gestantes já haviam sido diagnosticadas para o HIV e realizavam tratamento antirretroviral.

Além disso, enquanto o número de casos notificados de aids cai entre a população em geral, desde 2014, em todo o Brasil, o número de gestantes com HIV aumentou quase 37% nos últimos dez anos.

A infectologista responsável pelo Núcleo de Resposta à Transmissão Vertical do HIV, Sífilis e Hepatites Virais do Departamento de Doenças Crônicas e ISTs, Fernanda Fernandes, afirma que os dados são positivos justamente porque houve uma inversão de cenário.

“Os números mostram que há um aumento importante na proporção de gestantes experimentadas, ou seja, que iniciaram tratamento antirrretroviral antes da gestação, que passou de 36%, em 2010, para 61%, em 2018”, explica.

Além disso, observa-se que, em 2018, a maior parte das gestantes identificadas residiam nas regiões Sudeste (37%) e Sul (27%). No período entre 2010 e 2018, há um aumento na proporção de gestantes residentes nas regiões Norte (de 6% para 10%) e Nordeste (de 14% para 20%).

No que se refere à raça/cor, há um aumento na participação de gestantes negras, que passou de 38%, em 2010, para 45%, em 2018. Nesse mesmo período, observa-se uma diminuição da proporção de mulheres brancas, que caiu de 40% para 34%, no mesmo período.

Fernanda também explica que o cruzamento de dados do Boletim Epidemiológico e do Relatório de Monitoramento Clínico traz uma análise mais completa. “Isso porque o relatório de monitoramento clínico inclui todas as prescrições médicas das gestantes e análises de pelo menos dois terços dessa população”, afirma.

“Assim podemos dizer que, uma vez que a gente vê que o número de gestantes tem crescido no país, observamos um aumento proporcional no número de gestação em mulheres que já sabiam que tinham HIV. O que chama atenção, portanto, não é o número de diagnósticos de HIV durante o pré-natal, mas sim o de mulheres que já estavam em terapia antirretroviral e que engravidaram.”

Para Fernanda, “elas estão tendo oportunidade de exercer plenamente sua sexualidade, inclusive com a possibilidade de ser mãe. É um dado bastante positivo.”

 

Luta contra estigma

“Falar de maternidade não é algo simples, engravidei nos anos 90, quando já era soropositiva e não tínhamos um tratamento tão evoluído para evitar a transmissão do HIV de mãe para filho. É relembrar meses de dúvidas, desespero, medo e um enorme sentimento de impotência”, relata a ativista Vanessa Campos, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+).

As duas uniões geraram 3 filhos no total. Dentre as situações de preconceito que vivenciou, uma das piores foi justo durante  o parto da 3 filha. Discriminação vinda dos próprios profissionais de saúde. “Chegaram a mandar eu desinfetar os lugares por onde passei quarto do hospital. Isso já no ano de 2001”, conta indignada.

“Além disso, quando vi a cardeneta de vacinação da minha filha estava escrito bem na capa: filha de mãe HIV positivo. Isso é um absurdo”. Para ela, infelizmente, o preconceito continua o mesmo. “Hoje participo de encontros através do movimento social e vejo que, infelizmente, pouca coisa mudou.” 

A ativista do Projeto Bem me Quer, Margarete Preto, também teve filho após o diagnóstico. “Minha gestação foi tranquila, fiz o pré-natal corretamente, meu filho não tem HIV, mas lembro que no final da gestação tinha de ir toda semana ao médico para um monitoramento, e sempre pegava atestado para levar ao trabalho.”

A criança nasceu, o parto foi um sucesso e Margarete entrou em licença-maternidade do trabalho. “Estava numa felicidade só, era um momento de redescobertas, estava aprendendo os cuidados da maternidade.”

 

Certificação

A prova de que o país avançou no atendimento às gestantes é a redução da chamada transmissão vertical. A taxa caiu de 3,6 casos a cada 100 mil habitantes, em 2008, para 1,9 mil casos, em 2018, o que corresponde a uma queda de 47,2%.

Três municípios brasileiros receberam a Certificação de Eliminação da Transmissão Vertical de HIV. No Paraná, Curitiba e Umuarama receberam a certificação em 2017 e 2019, respectivamente, e, mais recentemente, São Paulo. A capital paulista, com 12,1 milhões de habitantes, é a cidade com maior população no mundo a receber tal título, segundo o Ministério da Saúde.

 

Dica de Entrevista

Vanessa Campos

E-mail: areli_dara_campos@hotmail.com

 

Departamento de Doenças Crônicas e IST

Telefone: (61) 3315-3580

 

Redação da Agência de Notícias da Aids