Os pacientes com HIV e com aids do Rio Grande do Sul enfrentam uma situação difícil: o desabastecimento ocasional de alguns antirretrovirais, medicamentos necessários para o tratamento da doença crônica. A falta dos medicamentos não é generalizada: em Porto Alegre, por exemplo, pacientes reclamam que não encontram um dos tipos usados no tratamento, a lamivudina, nas farmácias do Posto IAPI, Santa Marta, Vila dos Comerciários e do Hospital de Clínicas, desde março.

Os medicamentos são repassados pelo Ministério da Saúde, e distribuídos para os municípios pela Secretaria de Saúde.

Em Santa Cruz do Sul, cidade distante cerca de 150 km de Porto Alegre, foi registrado o atraso de uma semana na entrega da lamivudina.

“Tem dez anos que eu tomo remédio. Isso aqui é tua vida, né? Então eu quero viver. Tem que ser certinho com o remédio pra eu viver”, afirma outro paciente de HIV da cidade, onde cerca de 850 pessoas tratam a doença.

Em Pelotas, no Sul do estado, onde mais de 1,8 mil pessoas precisam realizar o tratamento contra o vírus, as listagem de pedidos enviadas pelo município não têm sido entregues por completo. Há remessas extras, que ajudam a suprir a necessidade, mas a situação causa preocupação nos médicos e pacientes.

“A distribuição não é regular, ela tem tido vários hiatos, vários períodos sem medicação. Ora sem um, ora sem o outro e isso compromete na realidade, a qualidade de vida do usuário”, diz Eliédes de Freitas Ribeiro, diretora de Ações em Saúde, em Pelotas.

Um paciente de Pelotas, que não quis se identificar, conta que é frustrante não encontrar todos os remédios que precisa.

“Esse medicamento nos faz falta, porque é um medicamento de uso contínuo. Se a gente não tomar ele, baixa a imunidade da gente. Então a gente fica sempre assim, com os nervos à flor da pele”, diz ele.

Problemas de saúde e desestímulo à adesão

A falta de um remédio interfere diretamente na efetividade do tratamento, como explica o médico infectologista Cézar Pinheiro. “Se a pessoa tomar de maneira irregular ou faltar, tomar um pouco ou não tomar tem risco de fazer resistência e o tratamento não ser efetivo”, detalha.

A falta de remédios afeta também na adesão do paciente ao tratamento. Há relatos de municípios que disponibilizaram medicamentos para cinco dias, quando o padrão é a distribuição para todo o mês. Essa situação causa transtornos para o paciente, que pode acabar desestimulando-o o seguir com o tratamento.

“Em vez de a pessoa fazer a terapia completa, ela faz a terapia fracionada”, explica o vice-presidente do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa), Carlos Alberto Duarte. Segundo ele, para que o tratamento seja efetivo, o máximo que pode falhar na medicação é em torno de 5%. “Nessas falhas, o paciente acaba ficando um mês sem a medicação completa”, diz.

A Secretaria Estadual de Saúde, por meio de nota, confirma que eventualmente acontecem faltas pontuais de algum dos 39 medicamentos antirretrovirais adquiridos pelo Ministério da Saúde e enviados ao estado. Mesmo assim, segundo a pasta, nunca houve o interrompimento total de envio ao estado.

Já o Ministério da Saúde afirma, também através de nota, que tem mantido as remessas de forma a garantir o abastecimento dos medicamentos em dia. Desabastecimentos pontuais, informa o ministério, podem ocorrer devido à complexidade do processo de compras e distriuição. Mesmo assim, não há repasse menor do que o número de pacientes que precisam de medicamentos, conclui a nota.