Futuro ministro da Saúde na gestão de Jair Bolsonaro, o médico Luiz Henrique Mandetta afirma que o governo precisa voltar a estimular políticas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, caso do HIV/aids.

Ele afirma, porém, que o Estado tem que tomar cuidado para não ofender as famílias. “Vamos ter que ver a maneira como isso se dá sem ofender aqueles que entendem que isso possa ser uma invasão do Estado no seu ambiente familiar”, disse.

Mandetta faz ainda críticas à atual política de prevenção do HIV. “Temos que rever o padrão de comunicação. Essa linguagem claramente não está surtindo efeito”, afirma, sobre o avanço da epidemia entre jovens.

O novo ministro diz que terá como prioridade a reorganização do atendimento na atenção básica e que deve rever o programa Mais Médicos.

Veja, a seguir, o que o futuro ministro diz sobre diferentes temas de sua pasta:

Prioridades da gestão

Não é possível organizar o sistema sem partir da atenção básica. O SUS se municipalizou de forma muito irrestrita, deixando alguns municípios sem condições técnicas e pessoal suficiente para fazer a gestão desse sistema. Precisamos repensar os distritos sanitários brasileiros.

Vamos criar a secretaria nacional de atenção básica, e ali criar as políticas de recursos humanos e discutir como lotar médicos em locais de difícil provimento.

Avanço da aids entre jovens

Não só aids, mas a sífilis está crescendo muito. Eu era jovem quando começou a epidemia de Aids. Aquela geração foi muito marcada por campanhas intensas do uso do preservativo, a aids despertava muito medo. Com a evolução do tratamento, hoje as gerações acham que é coisa do passado e começam a relativizar e negligenciar o uso do preservativo.

Vamos ter que voltar essa agenda com as unidades básicas de saúde. São dois picos de aumento hoje: um entre jovens e outro após os 60 anos.

Dia Mundial de Combate à Aids

Política de prevenção do HIV

Temos que rever o padrão de comunicação [da política de prevenção do HIV]. Como falo sobre sífilis e Aids para um adulto jovem? A linguagem atual claramente não está surtindo efeito. Será que temos que fazer rodas de conversa? Será que temos que provocar as famílias para que elas discutam isso dentro de suas casas? Como dizer para esse jovem que a sexualidade é boa e deve ser exercida na sua plenitude, mas que há riscos que passam por essas doenças sexualmente transmissíveis?

E depois tem a prevenção, que é como se disponibiliza o preservativo. Vamos ter que ver a maneira como isso se dá sem ofender as famílias, sem ofender aqueles que entendem que isso possa ser uma invasão do Estado em seu ambiente familiar. Mas de alguma maneira temos que disponibilizar isso, tem que estar mais próximo das pessoas.

Prep para populações chaves

Tenho notadamente buscado sempre a ciência. Se a PrEP faz parte da ciência e do melhor arsenal disponível, temos que ir atrás como sistema de saúde. Mas não podemos fazer disso a política. Não podemos banalizar e dizer ‘você pode ter um comportamento de risco que o Estado vai te dar um remedinho para resolver’.

A PrEP faz parte do arsenal e se dá muito na relação médico-paciente ou na relação com as unidades de saúde. Mas não é uma coisa que ‘Olha, vamos nos comportar assim porque temos essa possibilidade’. Não. Temos essa possibilidade, mas vamos falar sério sobre como você não precisa usá-la. Isso também passa por paternidade responsável, gravidez na adolescência e uma série de assuntos correlatos.

Aborto e saúde pública

O aborto é definido em lei. Qualquer mudança na lei é de competência do Congresso. Eu, enquanto uma pessoa da saúde e da medicina, e nisso não há nenhum viés religioso, sou extremamente pró-vida, porque fui treinado para ser pró-vida.

Se nós temos em lei a interrupção da gravidez em casos de estupro ou de risco à vida da mãe, o sistema de saúde tem que se preparar para oferecer esse serviço da maneira menos traumática possível para a mulher. Mas a saúde pública não deve chamar para si esse debate [do aborto].

Trazer o aborto como método de planejamento familiar também não. Ela vai trabalhar dentro do que a lei pressupõe, e nisso tem que fazer de melhor maneira.

 

Fonte: Folha de S. Paulo