O primeiro paciente que foi curado depois de um transplante de médula óssea, fez uma declaração e disse que não gostaria de ser a única pessoa no mundo  a ser curado do HIV, vírus que causa a aids. Timothy Ray Brown deseja que outras pessoas que vivem com o HIV consigam essa superação. Atualmente  ele trabalha para que isso  aconteça.”Não quero ser a única pessoa curada do HIV por muito mais tempo”, afirmou à imprensa internacional.

Seu caso veio à público pela primeira vez em 2008, em um congresso em Boston. Em 2009, o jornal New England Journal of Medicine informou que Brown, após 20 meses sem tomar os anti-retrovirais, não apresentava mais sinais de HIV em seu corpo. Timothy não está mais só. Temos agora “o paciente de Londres”, como divulgaram, durante o carnaval, diferentes veículos internacionais de comunicação.

Timothy vai estar no Brasil, em abril, durante o XIV Curso Avançado de Patogênese do HIV, que será realizado entre os dias 10 e 17 , em São Paulo. Criado pelo Dr. Ésper Kallás , professor titular da USP, imunologista e infectologista da Disciplina de Imunologia Clínica e Alergia da USP e do Hospital Sírio Libanês, o Curso de Patogênese reúne os maiores especialistas do mundo sobre o assunto.

Em entrevista exclusiva à  Agência Aids, Ésper diz que “ dois casos de cura da aids, ajudam mais que um”. Confira a seguir:

Agência Aids: 10 anos depois, temos mais um paciente curado do HIV. O senhor considera este um caminho promissor para a busca da cura definitiva?

Dr. Esper Kallás: É uma observação muito importante, mas serve para provar que o conceito de cura é possível. Embora o período de seguimento do segundo caso ainda esteja restrito a 18 meses sem o retorno do vírus, é possível que a cura observada no caso de Timothy Ray Brown seja atingível. Precisamos compreender porque deu certo, e dois casos ajudam muito mais do que um.

Por que a ciência e os médicos demoraram uma década para conseguir resultados positivos em um outro paciente?

Porque o alinhamento das diferentes e incomuns condições para este tipo de transplante são muito difíceis. Em outras palavras, é um evento raro. Foram tentadas diversas outras vezes e não deu certo.

Na sua opinião existe um equilíbrio entre os investimentos na produção de novos remédios e na busca concreta de alternativas para conseguirmos a cura da doença?

O tratamento altamente eficaz disponível força a pesquisa de cura da infecção pelo HIV a ser mais original. Precisa oferecer algo melhor que uma terapia que tem cada vez menos efeitos colaterais e é mais fácil de ser tomada. Ninguém sabe ao certo o melhor caminho para a pesquisa de cura. Há pistas, mas não há consenso de qual o melhor caminho a seguir. A ciência está explorando diferentes frentes, ainda numa fase de prospecção. O fato da cura só ter sido conseguida com transplante de células hematopoiéticas sugere que deve se investir mais nessa trilha, mas não podemos descartar outras.

Timothy Ray Brown, primeiro paciente curado do HIV

O senhor vai trazer o Timothy Ray Brown para participar do Congresso que organiza em abril, aqui em São Paulo. Como é o cotidiano do Timothy, foi muito difícil convencê-lo a vir para o Brasil?

Timothy aceitou participar da XIV edição do Curso Avançado que realizamos na Faculdade de Medicina da USP. Foi através de amigos comuns que são cientistas que colaboram conosco que conseguimos fazer o convite, que prontamente aceitou. Suas falas são inspiradoras e acho que injetará novo ânimo na pesquisa para combater a epidemia de HIV/aids aqui no Brasil.

Roseli Tardelli (roseli@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Dr. Esper Kallás

E-mail: esper.kallas@usp.br

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