“Ser mulher com deficiência é ter sua vida sexual invadida por curiosos que acham que mulher com deficiência não quer ter filho porque não pode ou porque não transa”, essa é uma das expressões que compôs a campanha “Ser Mulher com Deficiência É”, idealizada pelo Coletivo Feminista Helen Keller, onde mulheres relatam seus desafios, estigma e preconceitos enfrentados por viverem com algum tipo de deficiência.

Dentre os relatos, estão “ser mulher com deficiência é, especialmente se for congênita, ter seu corpo manipulado dede muito cedo por médicos, fisioterapeutas, cuidadores, familiares. Antes mesmo de nos ser ensinados sobre consentimento e limites”, ou ainda, “não conseguir achar um ginecologista que tenha consultório acessível para você entrar”.

Segundo o IBGE, no Brasil, uma a cada 4 mulheres vivem com algum tipo de deficiência. Para Vitória Bernardes, integrante do Coletivo, somos vistas como mulheres, mas não reconhecidas. Isso tem a ver com a construção que coloca as mulheres no lugar de fragilizadas, de responsáveis pela manutenção daquilo que é privado, e que vive nesse lugar de subordinação em detrimento do homem. Então reconhecemos que as mulheres com deficiência são mais afetadas devido aos demarcadores de gênero.

Segundo Vitória, esse fato faz com que mulheres com deficiência sejam vítimas de violência obstétrica, sexual, psicológica e violência doméstica. “A gente precisa observar o que está ligado à vivência da deficiência, e ao menos questionar se ela está ligada ao machismo, a gente fala de números de feminicídios, mas a gente não fala das mulheres que sobrevivem às tentativas de feminícidios e entre esses números, quantas adquiriram deficiência?”

 

Direitos Sexuais

Dados do Fundo de Populações das Nações Unidas (Unfpa) mostram que de até 70% das mulheres que vivem com deficiência sofrerão abusos antes de chegar aos 18 anos. O dado alarmante revela a falha. “Mulheres cadeirantes não conseguem atenção especializada. Os equipamentos não são apropriados. Inclusive por conta da forma com que o corpo precisa de cuidado, incluindo exames ginecológicos, mamografias. O próprio uso do preservativo, é preciso pensar formas de facilitar o uso”, denuncia Kátia Edmundo, do Centro de Promoção da Saúde (Cedaps).

Até o inicio de 2010, não havia em São Paulo um serviço especializado neste público. Foi em março deste ano que esta realidade começou a mudar na cidade com o projeto Saúde da Mulher com Deficiência, implantado no Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha.

O Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde (DANTPS) do Ministério da Saúde De modo geral, entre 2011 e 2016, houve um aumento de 66,5% nas notificações de violências interpessoais e provocada por mulheres.

“Muitas vocês você se percebe com deficiência quando se depara com as barreiras. Você se percebe diferente através desse processo de invisibilidade, de violência, de não aceitação do teu corpo ou da sua forma de estar no mundo. A gente não tem uma identidade que valorize a nossa existência, então muitas vezes a gente se reconhece pelo que nos é negado, pelas barreiras que são impostas”, afirma Vitória. “Precisamos pautar o que é ser mulher dentro desses diferentes corpos e ser reconhecida enquanto sujeitos  e não objetos. Toda vez que nos objetificam, nos violentam, mas temos também a chance de tornar esse luto em luta.”

 

Dica de entrevista

Vitória Bernardes 

Facebook: www.facebook.com/coletivofeministahelenkeller

E-mail:  coletivofeministahelenkeller@gmail.com

 

Kátia Edmundo, CEDAPS

Telefone: (21) 3852-0080

Email: direcao@cedaps.org.br

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)