Acaba de chegar ao Brasil, o Movimento Estamos Todos em Ação (META). Trata-se de um movimento latinoamericano que tem por objetivo incentivar o ativismo jovem pelos direitos sexuais das pessoas com deficiência, trabalhando para contribuir com o desenvolvimento inclusivo através de uma perspectiva de equidade e igualdade de oportunidade para todos.

No Brasil, os participantes do movimento irão trabalhar o ativismo nos meios digitais, principalmente através das mídias facebook e instagram para falar sobre HIV/aids, sexualidade e deficiência. A inciativa é coordenada do Centro de Promoção da Saúde (Cedaps) em parceria Instituto Interamericano sobre Discapacidad y Desarrollo Inclusivo (IIDI). 

Kátia Edmundo, do Cedaps, explica que a inciativa conta com jovens em diferentes países e tem o objetivo de “congregar jovens ativistas no campo das deficiências e produzir conteúdo de mídia digital que possa agregar na temática. Além disso, vamos qualificar ativistas para levar o tema dos direitos dos jovens com deficiência e criar um movimento de jovens com ou sem deficiência pela inclusão.

“A gente espera produzir peças de mídia, divulgando e trazendo a questão.” Segundo, Kátia a previsão é de dentro de um mês será possível começar a acompanhar os trabalhos. “A ideia não é gerar mais uma rede. Mas sim de um movimento de ativistas visando incluir e transversalizar movimentos já existentes.”

“As pessoas com deficiência tem direito a vivenciar sua sexualidade”, defende a ativista e integrante do movimento, Stéfany  Dias. “Por eu ter paralisia cerebral, decidi participar do movimento por ver as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam. Abracei a causa para que essas pessoas tenham autonomia, e para a sociedade ver a gente como somos. As pessoas pensam que a gente não fala sobre sexualidade, que pessoa com deficiência não tem relacionamento, uma vida a dois”

É para quebrar o tabu que existe sobre a vida sexual de pessoas com deficiência, que o movimento já cresceu em outros países da América Latina como Argentina, Uruguai e Costa Rica. Stéfany explica que as atividades do Movimento acontecerão via redes sociais, onde os jovens estão mais presentes. “Vamos chamar o público jovem, pessoas que abraçam a causa, trazer debates, entender quais são as demandas dessas pessoas.”

Pluralidade

Para Isabella Valadares, ativista e integrante do movimento, a relevância da iniciativa está na “proposta de fomentar discussões que tem pouco alcance na mídia e, sobretudo, a partir daí, instigar a luta por políticas públicas de acessibilidade, assistência e segurança a essa população que sempre se viu excluída dos processos e vida social, isso inclui os movimentos e as organizações governamentais.”

“A juventude brasileira é muito potente e reunir ativistas que já trabalham com a temática ou que se interessem por ela para participar desse processo será algo muito interessante e construtivo. A troca de vivências, entender o quão plural é o mundo das deficiências, nos enxergar no outro… Temos muito trabalho pela frente e esse também é o de fortalecimento de todos nós e o constante aprendizado. O mundo das deficiências é muito amplo e explorá-lo nos trará grandes descobertas”, completa.

Foi por isso que Isabella decidiu participar do META. “Somos muitos e somos diversos. Tendemos a ver na deficiência uma vida de limitações, incapacidades (odeio essa palavra) e de invisibilidades. Mas nós existimos e estamos aí, nós saímos nas ruas em 1970 e cunhamos o lema que é tão emblemático “nada sobre nós sem nós” como grito de quem quer participar e ter autonomia da sua própria vida. Sempre ouço que não somos visíveis, mas, ora, existimos. Nossas pautas não são visíveis! E isso é que invisibiliza o debate. O movimento de luta contra aids tem se aberto e atentado para isso, mas passamos anos à margem de qualquer debate sobre sexualidade. Pouco se discute sobre os dados das pessoas com deficiência vivendo com HIV e a não existência deles é que, volto a dizer, invisibiliza as ações.”

Além das fronteiras

Segundo a ativista e integrante do Movimento, Rafaela Queiroz, os resultados do META em outros países mostram que o Movimento também gera impacto nas pessoas sem deficiência, já que busca a garantia dos direitos das pessoas com deficiência, contribuindo com o desenvolvimento inclusivo. “Nossa estratégia nessa etapa é a VIP (Visibilizar, Integrar e Participar) e é com ela que vamos disseminar e conectar outras redes, outros movimentos e parceiros que tem o mesmo desejo de um país mais inclusivo.”

Rafaela conta que, apesar de a rede de jovens ter também jovens com deficiências, o tema não era uma pauta da programação. “Nos eventos nos atentávamos para acessibilidades de jovens que informavam ter deficiência, e foi nisso que me gerou um questionamento pessoal de como nos limitamos apenas a lutas pelos nossos corpos e não por todos os corpos.”

“Acredito muito no alcance da parceria da juventude com deficiência do Brasil, desejo muito que os materiais já existentes sejam conhecidos, divulgados e utilizados para alcançar jovens que estão excluídos socialmente. Jovens com deficiência precisam conhecer seus corpos; ter acesso aos insumos de prevenção; ter acesso à saúde sem constrangimento de ter que ir com algum responsável; ter acesso ao diálogo sobre IST/HIV/Aids se não pelos seus familiares pela internet que tem sido um meio de troca entre jovens com e sem deficiência através de aplicativos que facilitam a inclusão.”

Isabella conclui que há avanços a serem considerados. “Só de estarmos conseguindo sensibilizar e trazer esse debate para ordem do dia já é uma conquista. Penso que chamar para perto essas pessoas que já têm um acúmulo sobre esse assunto, recuperar os materiais já produzidos, pensar nas deficiências e seus atravessamentos; o direito à sexualidade, o direito à reprodução, o direito à educação pautada numa metodologia inclusiva, o direito a família, ir e vir e todo e qualquer outro espaço da vida social. Falar de pessoa com deficiência é falar de direitos que muitas vezes foram e ainda nos são violados. Penso que essa iniciativa se propõe a transversalizar o debate e contamos com uma estratégia que diz muito sobre isso: Visibilizar, Incluir, Participar que é a estratégia VIP. Por fim, como o próprio Foucault provoca: por que a gente exclui os excluídos?”

 

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Dica de entrevista:

Para mais informações sobre o META Brasil

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Isabella Valadares 

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Rafaela Queiroz

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Stéfany Dias

E-mail: stefanydi05@gmail.com

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)