Com o tema “Movimento de Luta e Resistência”, o Mopaids (Movimento Paulistano de Luta contra a Aids) lançou, nessa quarta-feira (18), durante reunião ordinária, o primeiro boletim institucional. A ideia, segundo José Araújo Lima, um dos coordenadores do movimento, é registar parte da história deste grupo que luta contra a aids há mais de 15 anos na cidade de São Paulo. “Trouxemos para a primeira edição um resgate da nossa história e outros temas que são importantes nesta causa. A luta política pela garantia dos direitos de quem vive com HIV/aids é a nossa bandeira. Não podemos fechar os olhos para o crescimento da epidemia entre os jovens e para o alto índice de mortalidade por aids entre pessoas pretas na cidade. Lutamos por portas abertas no SUS e atendimento integral”, explicou.

Araújo lembra que não foi por acaso que este grupo nasceu em 2002. São Paulo é a cidade que abriga o maior número de pessoas vivendo com HIV/aids em tratamento no Brasil e consequentemente as maiores demandas. E foi justamente para debater com profundidade as pautas da sociedade civil e conseguir, a partir da luta política, transformações sociais e ações coletivas, que ativistas criaram o Mopaids. O diferencial: reunir todos os interessados nesta luta para somar na defesa dos direitos humanos de quem vive com HIV/aids.

Hoje, o grupo é coordenado por três militantes do movimento nacional de aids: Américo Nunes Neto, fundador do Instituto Vida Nova; José Araújo Lima Filho, coordenador do Epah (Espaço de Prevenção Humanizada) e Cláudio Pereira, presidente do GIV (Grupo de Incentivo à Vida).

O boletim conta ainda com uma entrevista exclusiva com a coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo, Maria Cristina Abatte. A gestora falou sobre como São Paulo está enfrentando a aids e os desafios da atual gestão. Da Rede de Jovens São Paulo Positivo, Carlos Henrique Oliveira, escreveu um artigo sobre “HIV/aids e Juventudes: das narrativas da culpa à realidade das opressões históricas”. Nesta edição também é possível ler o texto do advogado Cláudio Pereira sobre os direitos das pessoas que vivem com HIV/aids.

Há ainda artigos sobre camisinha, casas de apoio, a importância da participação das ONGs, conselho gestor e o fortalecimento do movimento de aids. “Essa publicação é um marco e uma estratégia do controle social para dar visibilidade as nossas pautas. Temos interesse que os usuários dos serviços de aids, outras patologias e os profissionais de saúde tenham acesso as informações sobre o contexto da aids e atenção as pessoas que vivem com HIV/aids no município de São Paulo. Ao mesmo tempo, sentimos a necessidade de divulgar as conquistas e desafios do Mopaids na resposta contra a aids”, afirmou Américo Nunes.

A publicação conta com 16 páginas, mil exemplares impressos — que serão distribuídos nas ONGs/Aids e nos serviços especializados em DST/aids do município, e teve apoio financeiro do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo.

Ainda em 2018, o Mopaids vai lançar a segunda edição do boletim, com foco na coinfecção tuberculose e hepatites virais. Em breve, a primeira edição estará disponível no site do Mopaids.

Outros temas

Além do lançamento, os membros do Mopaids conheceram, nessa quarta-feira (18), a atuação do Centro de Convivência É de Lei na política de redução de danos na cidade. “A ONG desenvolve um trabalho, desde 1998, na promoção da redução de danos sociais e à saúde associados ao uso de drogas. Nossas ações estão voltadas para o desenvolvimento da cidadania e para a defesa dos direitos humanos de pessoas que usam drogas, sobretudo em contexto de vulnerabilidade”, explicou Marcelo Ryngelblum, do É de Lei.

Redução de danos é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar de usar drogas.

Ainda segundo ele, a ONG trabalha com advocacy e com projetos voltados a prevenção das ISTs para moradores de rua. “O nosso espaço está de portas abertas e, ao contrário do que muitos dizem, não somos contra a política de abstinência, mas só apoiamos a abstinência se fizer sentido para o usuário. Acreditamos ainda que o caminho é a distribuição de kits para reduzir danos.”

Do CTA São Miguel, a conselheira gestora Sônia aproveitou a fala de Marcelo para contar que também realiza um trabalho junto aos usuários de drogas e que não tem conseguido acessar os kits de redução de danos. “Sempre falam que em São Miguel não tem usuários de drogas, então não tem kits também. Estou em busca de alternativas para acolher essas pessoas da melhor forma possível.”

No final, Marcelo combinou de trocar experiências com Sônia e ajudar no que for possível.

Aposentadorias

Também foi debatido na reunião a revisão de aposentadorias. O Instituto Nacional do Seguro Social está convocando segurados em todo país, inclusive pessoas que vivem com HIV/aids, para a revisão de benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. Segundo Cláudio, “quem for chamado e não agendar a perícia para a revisão pode ter o benefício suspenso.”

Não existe documentação obrigatória, mas no dia da perícia, o segurado pode levar exames, laudos e receitas médicas. Se o segurado não concordar com o resultado da perícia, ele pode recorrer da decisão pelo conselho de recursos do seguro social.

“Estamos preparando no GIV um documento com orientações para quem está sendo chamando para a perícia. É importante manter todos os documentos em dia e ficar atento ao chamado”, disse Claudio.

A próxima reunião do Mopaids está prevista para o dia 16 de maio.

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)