Estado e município garantem que novas pessoas com HIV/aids são matriculadas todos os anos e recebem atendimento integral

 

O Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids) publicou nesta semana uma carta reivindicando portas abertas em todos os serviços de saúde que atendem pessoas vivendo com HIV/aids na cidade de São Paulo, inclusive nos que são administrados pelo estado.

De acordo com o movimento, há serviços especializados que estão com as portas “entreabertas” porque ofertam testagem de HIV apenas duas vezes por semana. Há outros em que o atendimento entre o diagnóstico e a primeira consulta é mais demorado. “Muito em breve o serviço municipal de aids caminhará para um colapso, pois são visíveis os “arranjos” para atender a demanda atual.”

O documento é uma resposta à entrevista que esta Agência realizou no inicio do mês com as responsáveis pelos programas de aids no estado e do município de São Paulo, Maria Clara Gianna e Maria Cristina Abbate, respectivamente (ouça aqui), no lançamento do pesquisa ‘A Hora É Agora- SP’. As coordenadoras garantiram que a rede de saúde está preparada para atender a todos.

Do município, Maria Cristina Abbate afirmou que a rede especializada de hoje é a mesma de 20 anos atrás, com menos profissionais para atender a população.  Do estado, Maria Clara disse que em algumas unidades eles estão com a estratégia de testar, iniciar o tratamento e posteriormente encaminhar o paciente para o serviço municipal.

Segundo o Mopaids, as portas dos serviços de aids estadual estão ‘lacradas’. “É de conhecimentos de todos que procuram o Centro de Referência de Aids e o Instituto Emilio Ribas que os mesmos encontram-se com as agendas fechadas e portas lacradas”, diz o documento enviado também aos secretários Estadual e Municipal de Saúde de São Paulo, Marco Antonio Zago e Wilson Polara, respectivamente.

Para o Mopaids, “repassar usuários (as) para o munícipio não é uma parceria saudável.” Eles querem responsabilidades compartilhadas. “Se hoje os serviços do estado se encontram saturados, essa mesma saturação começa a acontecer no município de São Paulo.”

CRT de portas abertas

Em resposta a carta do Mopaids, Maria Clara garantiu que o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids está de portas abertas. “Entre janeiro de 2017 e abril de 2018 foram matriculados no nosso ambulatório de HIV/Aids 438 pessoas vivendo com HIV/aids. Então, a informação que estamos com as portas fechadas ou lacradas é incorreta.”

Segundo a gestora, 7 mil pessoas estão matriculadas no ambulatório de HIV do CRT. “Eu disse que encaminhamos pacientes para a rede municipal porque trabalhamos de forma articulada, mas isso não quer dizer que não recebemos pacientes referenciados pela rede. Aqui, são atendidos casos mais complexos.”

Sobre o tempo de espera entre o diagnóstico e a primeira consulta, Clara assegurou que no CRT demora em média 1 semana. “Ao receber o diagnóstico já é colhido os exames de CD4 e carga viral. O resultado sai em uma semana. O paciente é atendido pelo médico e inicia o tratamento em seguida. Há pessoas que preferem continuar o acompanhamento em outros serviços, nem todos optam por continuar no CRT, mas ninguém fica sem atendimento.”

Clara ressaltou ainda que o CRT, por ser um centro de referência e treinamento, é também um espaço que abriga outros ambulatórios, como de hepatite, IST, o ambulatório Trans e o CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/Aids). “Temos um dos maiores ambulatórios de hepatites do país, com 2.800 pessoas em acompanhamento. Em 2017, mais de 19.500 pessoas circularam pelo CTA e pelos ambulatórios trans e de IST, e o resultado foi 64 mil atendimentos. Temos muito respeito e carinho pelo Mopaids, estamos sempre abertos ao diálogo, mas os nossos serviços não estão de portas lacradas”, finalizou.

Portas abertas no município

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo esclareceu que a rede municipal de DST/Aids segue prestando atendimento e acolhimento aos cidadãos paulistanos, incluindo a promoção de diversas campanhas de prevenção e orientação ao longo do ano.

Em 2017, os serviços de saúde de São Paulo registraram 4.389 novas matrículas de pessoas com HIV/aids, que passaram a ser acompanhadas por profissionais da rede. No mesmo período, também foram distribuídos cerca de 90 milhões de insumos de prevenção e realizados 900 mil testes diagnósticos na cidade.

Leia abaixo a carta do Mopaids na íntegra:

Prezados Senhores,

O espaço do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids) tem servido para várias discussões visando o enfretamento da epidemia de aids, bem como em defesa das pessoas com HIV/aids.

A luta contra o HIV/aids sempre é debatida dentro do contexto do fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde), e é neste sentido que o Mopaids tem reivindicado nos últimos anos, que os serviços de aids no município de São Paulo, estejam com portas abertas aos (as) usuários (as).

A política de aids, que ficou conhecida no mundo como inovadora nas duas décadas passadas, tem uma das primícias o atendimento respeitando a individualidade e a privacidade que levava muitas pessoas a procurarem atendimentos fora de sua região.

A liberdade de acesso aos serviços de saúde vem nos últimos anos sofrendo grave revés prejudicando de forma irreparável às pessoas com HIV/aids.

Segundo a senhora Maria Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal, em entrevista a Agencia de Notícias da Aids, no dia 11 de abril de 2018, relata que o município de São Paulo, possui a mesma rede de 20 anos atrás.

Mesmo reconhecendo a qualidade de vida que as pessoas com HIV têm sido beneficiadas com os avanços da ciência, o grupo que procura pelos serviços, tem sido de grande número, e tem encontrado um serviço deficiente, onde o número de profissionais tem diminuído a todo mês, levando inclusive a criar a “porta entreaberta” para testagem do HIV, onde a testagem é feita somente duas vezes por semana; encontrar as portas abertas é uma das bandeiras de luta do Mopaids.

Muito em breve o serviço municipal de aids caminha para um colapso, pois são visíveis os “arranjos” para atender a demanda atual.

Acreditando que o SUS é um sistema integrado entre os três poderes, no município de São Paulo é possível constatar a dissonância dos governos do Estado com o Município.

Nesta mesma entrevista, em gravação postada pela Agencia de Notícias da Aids, é possível constatar o tipo de parceria existente entre o governo do estado com o município, na fala da Dra. Maria Clara Gianna, quando relata que “não recusa atender as pessoas que procuram o serviço, que após os primeiros atendimentos e já com medicamentos são encaminhados para o município”, comprovando a parceria existente.

É de conhecimentos de todos que procuram o Centro de Referência de Aids e o Instituto Emilio Ribas, que os mesmos encontram-se com as agendas fechadas e portas lacradas.

As justificativas apresentadas não retiram a responsabilidades do estado com o município. Repassar usuários (as) para o munícipio não é uma parceria saudável, faz se necessário ações conjuntas para procurar caminhos onde as responsabilidades sejam compartilhadas.

Se hoje os serviços do estado se encontram saturados, esta mesma saturação começa a acontecer no município de São Paulo.

As novas tecnologias para testagens usadas no município pelos governos é uma cortina que esconde a triste realidade que as pessoas com HIV/aids têm vivenciado.

As portas dos serviços municipal e estadual devem cumprir sua missão que é uma das essências do SUS, ou seja, as portas estarem abertas, sem usarem subterfúgios para esconder as falhas existentes.

Atenciosamente,

Mopaids – Coordenação

 

Dica de entrevista

Mopaids

Tel.: (11) 5842-5403

Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo

Tel.: (11) 3397-2341

CRT

Tel.: (11) 5087-6933

 

Redação da Agência de Notícias da Aids