Ativistas do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta contra a Aids) criticaram, nessa quarta-feira (17), em reunião ordinária, a inclusão da tuberculose e da hanseníase no rol de agravos de responsabilidade do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais. A mudança na estrutura do Departamento foi anunciada no início de abril, em reunião com os coordenadores de IST/aids. Os militantes desaprovaram a falta de discussão do governo com a sociedade civil sobre as mudanças. “Para nós, da tuberculose, só mudamos de departamento. Mas é claro que a aids perdeu espaço e importância política. Juntar todos os agravos é desarticular movimentos”, disse o professor José Carlos Veloso, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose de São Paulo.

Américo Nunes, fundador do Vida Nova e um dos coordenadores do Mopaids, tem a mesma opinião. “Este é o desmonte da política de aids, o Brasil continua perdendo referência, força e visibilidade na luta contra a aids. Juntar todas essas patologias é segregar o movimento social.”

Para o jovem Filipe Pombo, articulador político do Mopaids, “a decisão do Ministério da Saúde demonstra que a atual gestão está desconsiderando as especificidades de cada doença. Muitas pessoas vivendo com aids ainda morrem em decorrência da tuberculose, mas cada doença é enfrentada de uma forma. A prevenção do HIV precisa ser pensada a partir da sexualidade. A tuberculose está ligada a pobreza. Não vamos aceitar políticas públicas pautadas no moralismo.”

O grupo decidiu se unir a outros movimentos para aprofundar a discussão e criar conjuntamente uma nota de repúdio sobre a decisão do atual governo. “Vamos levar o nosso posicionamento para as Conferências Estadual e Nacional de Saúde. Também estamos lançando uma petição online contra a inclusão da tuberculose e hanseníase no Departamento de Aids. Além disso, vamos acionar as frentes parlamentares. Não aceitaremos nenhum direito a menos”, afirmou Américo Nunes.

Consultório na Rua

Outro assunto em destaque na reunião ordinária foi sobre o trabalho que o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto realiza há mais de 10 anos com moradores de rua em diversas regiões da cidade de São Paulo. Conhecido como Consultório na Rua, a ONG, em parceria com a prefeitura, acolhe pessoas em situação de rua com objetivo de inserir essa população no SUS (Sistema Único de Saúde).

“Em São Paulo, o BomPar coordena 18 equipes formadas por médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, assistente social, psicólogo e agente social. As equipes ficam locadas em unidades básicas de saúde e facilitam o acesso dos moradores de rua aos equipamentos de saúde”, contou o assistente social Diego Lagatta.

As condições de extrema vulnerabilidade das pessoas em situação de rua representam um desafio na efetivação de uma política de saúde que contemple todas as necessidades dos moradores de rua. Segundo ele, os problemas de saúde mais encontrados nesta população são HIV, tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis, transtornos mentais, dependência química, hipertensão arterial, sequelas ortopédicas e as alterações dentárias. “Atendemos e acompanhamos, por exemplo, o tratamento de centenas de pessoas com tuberculose. Muitos estão fazendo o tratamento pela segunda vez. Também temos 150 pessoas vivendo com HIV em acompanhamento.”

No BomPar, segundo Diego, um dos diferenciais do Consultório na Rua é incluir nas equipes ex-moradores de rua como agentes comunitários para o acolhimento entre pares. “São pessoas que conseguem falar com os moradores de rua de igual para igual. Compartilham suas histórias e restabelecem vínculos.”

Outras pautas

O grupo aproveitou a reunião para avaliar o encontro de Conselheiros Gestores, a atuação do movimento paulistano na Conferência Municipal de Saúde e o empenho dos ativistas na criação da Frente Parlamentar Municipal de HIV e Tuberculose.

Na opinião dos ativistas, a Conferência Municipal de Saúde ficou marcada mais uma vez pela desorganização e pela falta de espaço para discussões mais aprofundadas. O grupo se comprometeu a levantar todas as propostas de saúde referentes a aids e tuberculose e acompanhar de perto o andamento de cada uma delas na cidade.

Sobre o encontro de Conselheiros Gestores, a comissão organizadora saiu com a missão de pensar em um evento mais inclusivo, com a participação efetiva de jovens e pessoas da terceira idade.

Outra missão dos militantes será buscar, na próxima semana, assinaturas de parlamentares na Câmara Municipal de São Paulo para a criação da frente. Segundo Filipe, o texto oficial que justifica a importância desta frente parlamentar já está aprovado.

Mais de 30 pessoas participaram da reunião do Mopaids, na sede do GIV (Grupo de Incentivo à Vida). A próxima já está agendada: 15 de maio, às 14h, no GIV.

 

Dica de entrevista

Mopaids

Tel.: (11) 5084-0255

Talita Martins (talita@agenciaiaids.com.br)