Com base em novas evidências avaliando benefícios e riscos, a o uso do medicamento dolutegravir para o HIV é recomendado como o tratamento de primeira linha e segunda linha preferido para todas as populações, incluindo mulheres grávidas e aquelas com potencial para engravidar, anunciou a Organização Mundial de Saúde durante a 10ª Conferência da IAS sobre Ciência do HIV, nessa segunda-feira (22), na Cidade do México.

As novas recomendações pretendem resolver a incerteza para saber se as mulheres em idade fértil devem tomar dolutegravir. No ano passado, a OMS publicou recomendações provisórias para o uso de dolutegravir após um estudo de vigilância em Botswana ter revelado uma taxa maior de defeitos do tubo neural nos bebês de mulheres que estavam tomando dolutegravir na época da concepção. Essas recomendações aconselharam que as mulheres em idade fértil poderiam receber dolutegravir, se tivessem acesso à contracepção consistente e confiável, e destacaram a evidência incerta sobre a segurança do medicamento.

Segundo a OMS, no entanto, as novas recomendações não são ambíguas. Recomenda-se a terapia antirretroviral com base no dolutegravir como regime de primeira linha para todos os adultos e adolescentes. Isso é classificado como uma recomendação “forte” da OMS, o que significa que, se os países o ignoram, eles estão indo contra provas contundentes de que o tratamento antirretroviral baseado em dolutegravir é, agora, o melhor disponível.

Rebecca Zash, pesquisadora da Escola de Medicina que liderou o estudo Tsepamo, disse que “os dados de segurança desses medicamentos não afetam apenas as mulheres grávidas, afetam todas as mulheres em tratamento atirretroviral.”

Desafio Global

A OMS diz ainda que a implementação das recomendações é uma prioridade urgente para os países, na medida em que trabalham para atingir as metas 90-90-90. “O tratamento com base no dolutegravir tem o potencial de ser econômico, melhor tolerado, levando a uma melhor adesão, e mais potente, o que significa que menos pessoas precisarão mudar para esquemas de segunda linha mais caros.

O planejamento do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids (PEPFAR) projetou que, a partir de 2019, 80 a 90% dos pacientes teriam feito a transição para o dolutegravir ou começado o tratamento com um esquema contendo dolutegravir. Na prática, os países estão ficando aquém dessas metas como resultado das decisões do ano passado de restringir o acesso das mulheres ao dolutegravir.

123 países introduziram o dolutegravir em recomendações de primeira linha, incluindo 41 países de baixa e média renda que adotaram dolutegravir, tenofovir e lamivudina como o regime de primeira linha preferido. Todos os países com alta incidência na África Subsaariana adotaram a terapia baseada em dolutegravir como o regime de primeira linha preferido, mas o progresso é mais lento na Ásia. A China, a Índia, a Indonésia e a Tailândia continuam com o tratamento de primeira linha baseado no efavirenze.

A Embaixadora Deborah L. Birx, Coordenadora Global de Aids dos EUA e Representante Especial dos EUA para a Diplomacia da Saúde Global, criticou a maneira como as preocupações com a segurança do dolutegravir resultaram na negação do tratamento com a mulheres em vários países.

“Se avançarmos as políticas com a rapidez com que fechamos o acesso ao dolutegravir para as mulheres, a epidemia terminaria”, disse. “Foi chocante.”

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)

A Agência de Notícias da Aids cobre a 10ª Conferência do IAS sobre Ciência do HIV (IAS 2019) com o apoio do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente transmissíveis.