Com o tema “Prevenção Combinada do HIV em contextos de favelas, aldeias, quilombos e periferias brasileiras”, o Rio de Janeiro recebeu, na última semana, mais uma edição do seminário Fala, Comunidade! De acordo com o Cedaps, ONG responsável pelo evento, o grupo focou no aprofundamento do conhecimento sobre o tema e pensou em formas acessíveis para ampliar o acesso as informações, buscando parceria com jovens, lideranças comunitárias e agentes multiplicadores de prevenção, que realizam ações nos seus territórios.

Não foi por acaso que os primeiros painéis do encontro debateram a importância de territórios periféricos na atuação da prevenção de IST/HIV e tuberculose. Os participantes colocaram a mão na massa e criaram mensagens sobre Prevenção Combinada com uma linguagem popular e acessível no intuito de informar aqueles que não têm acesso à informação. Em breve esses conteúdos serão disponibilizados.

Lideranças de outros estados também puderam compartilhar suas experiências territoriais. As ativistas Eliana Karajá, da aldeia indígena em Goiás,  Ione Oliveira, do Quilombo em Minas Gerais, Cícera Moreira, que atua na periferia de São Paulo e Edna Pinho e Fatima Gavião, da Rede de Comunidades Saudáveis de Salvador trouxeram vários exemplos de como falar sobre prevenção e autocuidado respeitando os limites de cada comunidade. “Muitas mulheres sofrem agressões de seus maridos nas aldeias, e a “cultura” é usada como argumento para impedir a entrada da polícia. Agressão não é cultura. Depois de muita luta conseguimos apoio para a Lei Maria da Penha entrar dentro das Aldeias Indígenas”, disse Eliana Karajá .

As representantes do META Brasil, Rafaela Queiroz e Stefany Dias; o presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/RJ, Caio Silva de Souza; e a supervisora administrativa Núcleo Rio APABB, Cristiane da Conceição estiveram no evento e debateram sexualidade e deficiência. Em seguida, os jovens puderam compartilhar suas vivências.

“Eu sou jovem com deficiência, tenho paralisia cerebral. Até os meus 18 anos eu não saia de casa, vivia no meu mundinho, não saia nem para comprar pão. Cheguei a sofrer depressão. Na escola me convidaram a parar de estudar, foi quando falei “você não decide meu futuro, quem decide meu futuro sou eu, por isso não vou parar”. Hoje estou cursando técnico de gerência em saúde. E comecei na militância de prevenção a IST/HIV em 2015, quando eu fiz curso de Jovens Lideranças realizado pelo Ministério da Saúde”, disse Stefany Dias.

“A gente precisa entender que os nossos pais não tiveram a mesma oportunidade que estamos tendo hoje de estar em uma roda de conversa sobre prevenção, e por isso essa conversa em casa não existe em casa com os filhos, o trabalho de conversa sobre prevenção também precisa ser feito com eles”, completou Hugo Sabino.

Também teve exibição do documentário “Carta Para Além dos Muros” que conta a trajetória histórica do vírus HIV e da aids no imaginário brasileiro, desde a epidemia que tomou o mundo e deixou milhares de vítimas nas décadas de 80 e 90, até os dias de hoje.

O evento contou ainda com oficinas sobre dispenser de preservativos com garrafas pet e lata de leite, brincos artesanais com reaproveitamento de caixas de leite, bonecas de abayomi e turbantes. Após o momento de criação, o evento foi encerrado com expressões culturais com o desfile de turbantes e performances artísticas.

O “Fala, Comunidade” é um espaço para dar visibilidade as inciativas de prevenção existentes nas comunidades populares e periferias. Além disso, fortalecer o acesso à informação sobre as tecnologias de prevenção existentes, além do preservativo, e o conhecimento de novas experiências e referências por parte de ativistas residentes em favelas e periferias para garantia da prevenção como um direito.

 

Redação da Agência de Notícias da Aids com informações