Poucos imaginavam ver a Suécia na Copa do Mundo da Rússia, onde jogará sem grandes responsabilidades. Presente em 11 dos vinte mundiais da Fifa realizados até aqui, a Suécia conseguiu surpreender em algumas edições – duas vezes 3º lugar e um vice-campeonato. Seu primeiro adversário é a Coreia do Sul, que alcançou um histórico quarto lugar em 2002, quando o torneio foi realizado em terras coreanas e japonesas.

No entanto, o desempenho naquela edição foi uma exceção. A Copa na Rússia será a 10ª da Coreia do Sul, sendo a nona consecutiva. A meta é conseguir um resultado melhor, mas o desafio não será nada fácil. Mais difícil ainda quando o assunto é HIV/aids. De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, o número de novas infecções pelo HIV e de pacientes com aids no mundo diminuiu 35% de 2000 a 2015, enquanto o número na Coreia do Sul quadruplicou no mesmo período. Já a Suécia dá uma verdadeira goleada nessa área.

Em outubro de 2016, o país anunciou que foi o primeiro país a atingir as metas 90-90-90 da ONU, que foram, em realidade, alcançadas em 2015. Atualmente, o país estima que 90% das pessoas vivendo com HIV estão diagnosticadas, 97% delas estão em tratamento e 95% dessas pessoas em tratamento estão com carga viral indetectável.

 

Suécia

Segundo dados do mais recente relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas Sobre HIV/Aids (Unaids), de 2016, 11 mil pessoas vivem com o vírus na Suécia hoje, das quais 9,2 mil estão em tratamento com antirretrovirais. Em uma população de 9,7 milhões de habitantes, a prevalência é de 0,2% entre os adultos.

A maior parte dos infectados é adulta e do sexo masculino, 7,8 mil, enquanto o número de mulheres infectadas é 3,2 mil. Homems que fazem sexo com homens continua sendo o grupo mais vulnerável desde o início da epidemia.

Ainda no país, menos de cem pessoas morreram em decorrência da aids e menos de mil novas infecções ocorreram no mesmo ano.

A Suécia foi um dos países pioneiros a se posicionar sobre o risco de transmissão do HIV por pessoas com taxas indetectáveis das células de defesa CD4. Este foi o posicionamento da Agência de Saúde Pública da Suécia e do Grupo de Referência Sueca para Terapia Antiviral baseado em um seminário organizado no outono de 2012. Segundo as recentes pesquisas da época apresentadas, o risco de transmissão por meio de relações sexuais vaginais ou anais desprotegidas foi considerado mínimo, desde que não houvesse outras infecções sexualmente transmissíveis e desde que a pessoa infectada com o HIV preenchesse os critérios de adesão e eficácia do tratamento antirretroviral.

A Suécia segue como defensora política e apoiadora dos esforços globais em torno do HIV e também é um dos principais doadores para Unaids e o Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária.

Mais números

 Incidência do HIV por 1000 habitantes  – 0,06%

Órfãos em decorrência da aids (de 0 a 17 anos) – 1,1 mil

 

Coreia do Sul

Apesar de 30 anos de pesquisa e um dos sistemas médicos mais avançados do mundo, o HIV/aids na Coreia do Sul continua envolto em estigma e negligência. Amplamente assumido como uma “doença gay”, até mesmo por alguns dos médicos mais influentes do país, os pacientes de são frequentemente deserdados pela família, expulsos de hospitais e recusados ​​para cuidados vitais. Muitos residentes estrangeiros enfrentam testes obrigatórios de HIV e são deportados se forem considerados soropositivos – apesar das garantias do governo à ONU de que esses testes terminaram há anos.

Em consequência, é quase impossível conhecer um dado estatístico preciso sobre a epidemia no país. Embora estima-se que cerca de 10.000 pessoas vivem com o HIV, em um país com quase 51 milhões de habitantes, o número real pode ser quatro ou cinco vezes maior por causa do temor da população em se testar.

Em 2010, 219 pacientes sul-coreanos foram infectados pelo HIV, enquanto o número subiu para 1.018 em 2015. Desde 2013, há pelo menos 1.000 novos pacientes infectados com o HIV a cada ano. De acordo com dados do ano passado, 93% dos pacientes recém-diagnosticados eram homens na casa dos 20 e 30 anos.

Os coreanos têm pouca compreensão da doença e, em uma pesquisa recente, a maioria disse que seria difícil conviver com um vizinho vivendo com o vírus. Segundo Son Moonsoo, presidente da organização Korean People Living with HIV/Aids (KNP +), não é difícil encontrar um médico, porque a Coreia é um país de topo para tratamento médico, “A Coreia tem muitos remédios e médicos. Mas é apenas para pacientes saudáveis ​​com HIV. Para as pessoas que desenvolveram aids e precisam ficar em uma instituição a longo prazo, não há lugar.

Homofobia

A homossexualidade nunca foi aceitável na sociedade coreana, mas os ventos mudaram nos últimos 10 anos. Mais pessoas LGBT estão falando, e como resultado, mais forças antigays também saíram da toca, especialmente entre os poderosos conservadores cristãos do país. Jae Kim, membro da Nanuri + e da KNP +, diz que é o estigma de ser conhecido como gay que impede muitos indivíduos de serem testados, e se positivos, de serem tratados. “A Coreia do Sul é uma sociedade dominada por homens, então quando você se envolve com relações sexuais com homens, é como se você estivesse humilhando sua masculinidade”, diz Kim. “Ser um homem gay é muito, muito embaraçoso para as famílias deles e para a sociedade deles. Então, o público realmente evita ter contato com eles”. Kim também diz que mesmo dentro da comunidade gay, uma vez que as pessoas descobrem que você vive com o HIV, as pessoas frequentemente se afastam.

O governo sul-coreano considera pessoas vivendo com o HIV moralmente impróprias para ensinar inglês e medicamente incapazes de receber bolsas de estudo do governo para estudar nas universidades sul-coreanas. Mas a Organização das Nações Unidas (ONU) e governos em todo o mundo há muito reconhecem que tais políticas são injustificadas em qualquer tipo de saúde ou direitos humanos. Em um país economica e cientificamente avançado, esse é um lembrete surpreendente de que, em alguns aspectos, a Coreia do Sul ainda precisa acompanhar o resto do mundo. Hoje, professores de inglês estrangeiros na Coréia do Sul devem passar por testes periódicos de HIV para manter suas posições, e estudantes de pós-graduação estrangeiros podem ser desqualificados de programas de intercâmbio e ter as bolsas de estudos do governo revogadas se forem HIV positivas.

A condenação internacional pelos direitos humanos não alterou esses fatos. A Coreia do Sul chegou a alegar na Conferência Internacional de Aids de 2012 que havia rescindido todas as restrições de viagens relacionadas ao HIV para estrangeiros – mesmo que continuasse exigindo que estrangeiros que buscam vistos de trabalho fossem submetidos a exames de saúde que incluíssem testes de HIV.  Em 2015, o Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial decidiu que os requisitos de testes de HIV da Coreia do Sul para professores de inglês estrangeiros não poderiam ser justificados por razões de saúde pública e qualificados como discriminação racial, já que a maioria dos sul-coreanos étnicos não estava sujeita à mesma exigência.

Direitos Humanos

No final de 2016, a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Coréia emitiu duas decisões recomendando o fim das restrições ao HIV para professores de inglês estrangeiros e beneficiários de bolsas de estudos de pós-graduação estrangeiras convidadas pelo governo. O ex-presidente Park Geun-hye e seu governo ignoraram todas as três determinações.

Como a Coréia do Sul não tem nenhuma legislação antidiscriminação, é perfeitamente legal discriminar alguém por qualquer motivo – raça, gênero, etnia ou saúde, incluindo o status sorológico para o HIV. Mas leis anti-discriminação estão em vigor na Coreia, por causa dos tratados internacionais ratificados pelo país.

A aids também é vista como um “mal que vem de fora”, o que se constata com a obrigatoriedade do teste para certos estrangeiros na Coréia. Durante as Olimpíadas de Seul, em 1988, ativistas realizaram manifestações para exigir o teste de HIV de todos os visitantes estrangeiros, e a imprensa entrou em pânico, pedindo que os coreanos não tivessem relações sexuais com estrangeiros. Mas nenhum teste foi necessário.

Em 2007, os professores de inglês estrangeiros na Coréia foram obrigados a passar pelo teste obrigatório de HIV. Nem um único professor teve diagnóstico positivo na história coreana, mas uma série de reportagens xenófobas, muitas referindo-se a eles como predadores sexuais, causaram pânico moral e o governo reagiu instituindo testes obrigatórios de HIV. Evidentemente, esses testes não eram necessários para os coreanos nativos.

 

Redação da Agência de Notícias da Aids