Aos 30 anos, Esmeralda Carvalho, de Pernambuco, é uma das ativistas mais jovens a participar do V Encontro Regional da Rede de Pessoas Vivendo com HIV no Nordeste, que acontece na cidade de Fortaleza. Durante a mesa que tratou da forma com que os estados da região nordeste estão lidando com as pessoas que vivem com o vírus, Esmeralda, que é também integrante da ONG Gestos, falou sobre sua experiência ao descobrir que vivia com HIV ao 20 anos, logo após uma gravidez, e levantou uma provocação para o movimento: “dos dez anos que vivo com HIV, sete passei sem sequer saber que o movimento existia, precisamos de informação.” 

“Será que tenho condições de criar uma criança? Será que vou conseguir estudar? Ter uma profissão?”, diz ao relatar seus questionamentos. “Por isso, o atendimento psicológico é fundamental para uma pessoa com HIV, porque a terapia te coloca de novo na dignidade, te coloca como ser humano de novo. Foi a partir daí que passei a conhecer meus direitos políticos.”

Emocionada, Cássia Dantas critica a separação e distância que há entre jovens e o movimento social, apesar de os números apontarem crescimento nos casos entre jovens até 25 anos no país. “É preciso tentar uma reaproximação com esses jovens. Quais são as instituições que de fato empoderam as pessoas que vivem com HIV? Não há mais campanhas para jovens e estamos voltando à década de 80. Nós sabemos de todos os efeitos colaterais que esses medicamentos nos causam e precisamos fazer um encontro com os jovens.”

Além da juventude

Durante o debate, Jaqueline Brasil, mulher transexual vivendo com HIV no Rio Grande do Norte, relata que a preocupação das pessoas transexuais vai além de sobreviver ao HIV. “Vivemos com tanta vulnerabilidade social que ficamos em segunda categoria, o que agrava a prevenção e acesso a tratamento. Faltam muitas políticas públicas para essa população. De que corpos estamos falando? O movimento de Pernambuco entendeu que nós precisamos construir nossa própria mandala e o nome socialentra nesse contexto, porque quando o serviço de saúde leva em consideração o nome social, as pessoas transexuais se sentem acolhidas e não deixariam de buscar as unidades da saúde.”   

Josesito Souza, de Alagoas, chamou atenção para outra vulnerabilidade: a das pessoas acima de 50 anos que vivem com HIV. “Temos que usar a mente para sobreviver. Encontramos barreiras nos serviços para quem está envelhecendo. Não encontramos geriatras, por exemplo, aos 63 anos e há 34 anos de diagnóstico, fui me redescobrindo e reconstruindo minha vida”, disse ao relatar os desafios que enfrenta para atingir qualidade de vida ao envelhecer com o HIV.

Nesse sentido, Vando Oliveira acredita que não se trata apenas dos jovens, ou de grupos específicos, mas da assistência às pessoas com HIV no nordeste como um todo. “Não é porque o governo federal tem retrocessos que vamos esquecer dos estados e municípios. Há várias pautas que são de todo mundo. Hoje, vivemos uma realidade em que precisamos parar para pedir medicamento. Então, como vamos avançar? O SAEs estão fechando, os hospitais de referência não têm mais vagas, então o que temos? Antes a gente se escondia para viver, agora temos nos mostrar para não morrer. Se tiver que ir pra rua de novo, vamos. Vamos nos reinventar.”

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)

A Agência de Notícias da Aids cobre o V Encontro Regional da Rede de Pessoas Vivendo com HIV com apoio do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis.