O acesso ao medicamento que contém emtricitabina e tenofovir (por enquanto só o Truvada, da farmacêutica Gilead) como estratégia de prevenção contra o HIV através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é recente. Até pouco tempo, a única alternativa para quem queria fazer a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) era comprar online a versão genérica do medicamento, produzido por uma empresa indiana, a Cipla, que não está disponível em Portugal. Apesar do programa de acesso precoce ao Truvada, há quem admita continuar a adquirir o genérico na internet até que a profilaxia seja disponibilizada na comunidade.

O caminho percorrido por estes medicamentos é atribulado. Em Portugal, quem toma o genérico recorre a sites que vendem o medicamento. Após a compra, os comprimidos são enviados para uma morada no Reino Unido, onde esta operação é permitida, e só depois de chegarem ao território britânico é que as embalagens são enviadas para Portugal. E há sempre o risco de ficarem retidas na alfândega.

Cada embalagem, suficiente para um mês, custa cerca de 44 euros (184,80 reais), segundo o site All Day Chemist  uma farmácia online a que os usuários de PrEP recorrem. Com as taxa de envio, o preço final chega a 60 euros (252 reais), diz quem compra.

Perigos da Net

Segundo o Infarmed, comprar medicamentos ilegais ou falsificados através da Internet “não tem implicações legais”. Mas é perigoso para a saúde. A Autoridade Nacional do Medicamento reforça que “esta opção de aquisição de medicamentos poderá trazer graves problemas que podem inclusive não ser reversíveis”. Nestes casos, “não estão garantidas condições de segurança, qualidade e eficácia”, como os que se encontram no circuito legal”.

O Infarmed afirma que quanto aos medicamentos interceptados pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), não há registo de um “volume excepcional” de medicamentos a entrar em Portugal com a substância ativa do Truvada comparativamente a outros produtos.

Para Isabel Aldir, diretora do Programa Nacional para a Infecção HIV/Aids e Tuberculose, os problemas podem surgir em vários planos. Por um lado, “não é possível garantir que o medicamento (que se recebe) é aquele que se encomendou” ou que vem em boas condições. Quando a ingestão do medicamento é feita sem acompanhamento médico (ou com pouco), há o risco de que alguém que esteja infectado continue a tomar PrEP — quando essa não é a medicação adequada para um soropositivo — e desenvolva resistências ao medicamento.

Além disso, é necessária a monitorização constante, o que passa pela realização de testes para o HIV e a outras infecções sexualmente transmissíveis, bem como pela avaliação de potenciais efeitos secundários “de três em três meses, no máximo”.

Nos últimos anos, criou-se uma rede informal que partilha informações sobre o tema. Há inclusive um site, cuja gestão está a cargo de Bruno Maia, um médico e ativista que também utiliza PrEP, onde se detalha o passo-a-passo para a compra online e se dão informações sobre como tomar a medicação. Algumas destas pessoas são acompanhadas no Checkpoint Lx.

Luís Mendão, presidente do Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), diz que, porque a comunidade foi se organizando e avaliando se estes sites são fidedignos, os riscos que se correm serão “muito poucos”.

Fonte: Público Portugal