Ativistas do Movimento de Luta Contra Aids de todas as regiões do Brasil se reuniram no Largo do Arouche, no centro da cidade de São Paulo, para tornar público suas reivindicações em relação à política de aids no país.

“Estamos unidos para marcar a reivindicação das pessoas vivendo com HIV/aids por direitos humanos, por acesso à saúde, acesso a medicamento, a serviços, à cidadania e dignidade. É um ato pequeno que marca que a gente está aqui e que a gente vive, sobrevive e resiste aos governos. Governos que nos tiram direitos, nos tiram saúde e nos condenam à morte”, disse o ativista Paulo Giacomini. 

O ativista Jorge Beloqui, apresentou algumas das principais pautas do movimento social. “Queremos um Programa que leve ‘HIV’ no nome”, disse ao fazer referência à mudança de nome do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais para Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis que aconteceu no início do ano de 2019. “A gente acha que silenciar o nome ‘aids e HIV’ dentro do Ministério da Saúde é relegar a aids a um problema secundário. Silêncio é igual a morte.”

Beloqui também chamou a atenção para as populações vulneráveis ao HIV como homens que fazem sexo com homens, trabalhadoras sexuais e pessoas transexuais. Segundo o ativista, essa população não consegue acesso a tratamento e nem à prevenção.

Em fala emocionada, a ativista Vanessa Campos, de Manaus, criticou a postura do governo atual e relembrou a luta de outros membros do movimento social. “Viemos dizer que estamos vivos e não vamos deixar de lutar por isso. Muitos se foram nessa caminhada. É pela vida de todos e todas que resistiremos!”

 

Aids nos diferentes Brasis 

 

Segurando cartazes com dizeres como “não ao desmonte do SUS”, e aos gritos de “viva a vida!” os manifestantes compartilharam sua visão sobre a atual política de aids e relataram a realidade da epidemia em suas respectivas regiões. A delegação do estado do Pará, por exemplo, denunciou que os usuários que buscam por atendimento especializado na cidade de Belém, capital do estado, estão sendo orientados a voltar para as Unidades de Básicas de Saúde de seus municípios. “O desmonte já está acontecendo no Norte, paciente de mais de 140 municípios não encontram mais acompanhamento. A gente chora porque muitas pessoas deixarão de ter adesão ao tratamento, muitas pessoas morrerão. Mas enquanto tem vida, tem esperança.”

Gina Hermann, de Porto Alegre, explicou que “não queremos ser tratados nas unidades básicas porque não estão preparadas para nos receber, porque há muita discriminação. Não queremos ser atendidos por médicos de viroses. Precisamos de uma atenção especializada, sem contar com a psicologia e atenção à nossa saúde mental. Também queremos o direito de nos tratar em alguma unidade que não seja próxima da nossa casa como garantia de sigilo.”

Do Rio de Janeiro, Maria Eduarda Aguiar pediu atenção ao jovens. “Precisamos pensar porque os jovens não estão conseguindo fazer a adesão e quando vão para o hospital já chegam em estado grave e acabam morrendo. Para onde está indo o dinheiro que o governo federal diz estar investindo na mortalidade da aids?  Precisamos cobrar isso”, disse.

Os ativistas do Rio de Janeiro também denunciaram a ausência de um centro especializado na cidade nessa que é a segunda maior do país.

Já as pessoas que vivem com HIV/aids no estado do Ceará pediram por mais Serviços de Assistência Especializada (SAEs), já que as unidades básicas de saúde do estado também não estão preparadas para lidar com as pessoas que vivem com o vírus. “Há um jovem que há 120 dias teve diagnóstico de HIV e até hoje não passou pela primeira consulta”, denuncia Vando Oliveira.

Sandra Paiva, do interior de São Paulo, também deixou seu recado. “Ei você aí saudável, você também é vulnerável.”

Política e Saúde

Moysés Toniolo, da Bahia, defendeu que fazer um ato como este, em 2019, “é lembrar que para que a gente tivesse o direito chegar perante a sociedade e falar sobre aids sem ser discriminado, segregado ou isolado, muitos antes de nós lutaram e morreram por essa causa. Isso aqui não morre com a gente. Temos que fazer deste momento, uma luta pela vida. Que nosso exemplo, atuação e nosso ativismo represente um muito de pessoas que lá na base sequer tem condições de dizer.” 

Segundo Moysés, os dois últimos governos já acirraram o desmonte do Sistema Único de Saúde do Brasil. “Sem SUS não existirá não só a politica de aids, como a atenção básica que poderia estar ajudando na prevenção não só à aids como a outras Infecções Sexualmente Transmissíveis. Não teremos serviços específicos para saúde mental e locais para fazermos exames. Não ao retrocesso da aids!” 

Já o ativista Jair Brandão, de Recife, denunciou que o Brasil não está respeitando os acordos internacionais que dizem respeito ao enfrentamento da aids no mundo. “Estamos aqui para denunciar isso. Que as pessoas tenham acesso à saude com integralidade e respeito. Precisamos falar para a sociedade que a aids não está mais como prioridade na agenda de saúde do governo que pensa que quem vive com aids está bem, o que não é verdade. Estamos aqui hoje para sensibilizar que a aids precisa voltar para a agenda de prioridades da Saúde. Por nenhum direito a menos.”

Por fim, o ato homenageou a trajetória dos ativistas que faleceram recentemente. Entre eles, Josimar Ferreira, do Rio de Janeiro e José Araújo, de São Paulo.

 

Dica de entrevista

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Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com)