“Mais médicos”, “mais atenção”, “mais equipamentos”, “menos fila”. Em meio à espera por atendimento, frases como essas se repetem entre usuários da rede pública quando questionados pela reportagem sobre o que esperam para a saúde.

Principal preocupação dos brasileiros segundo pesquisa Datafolha, a saúde não ocupa lugar central nos planos de governo dos candidatos à Presidência. “São propostas não concretas, intenções vagas, o que torna muito difícil controlar [o cumprimento] depois”, afirma Ligia Bahia, professora de saúde coletiva da UFRJ (Universidade Federal do RJ), uma das autoras da análise dos planos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Maior sistema de saúde gratuito do mundo, atendendo a quase 75% da população do país, o SUS sofre de um crônico subfinanciamento, que pode piorar nos próximos anos.

Na última quinta (13), a empregada doméstica Nilma Ferraz, 24, fez um percurso de mais de cinco horas por atendimento na rede após uma forte queda durante o trabalho. Primeiro, procurou uma unidade de saúde próxima de sua casa, em Brasília.

Recebeu recomendação para ir a um hospital —onde foi atendida só quase quatro horas depois. Não era a primeira experiência de espera na rede. Dias antes, tentou agendar uma consulta regular com um ginecologista. Conseguiu data apenas para 21 de dezembro. “Com essa demora, se eu tivesse algum risco de morrer, morreria antes”, reclama.

Para ela, o ideal seria que a rede tivesse mais profissionais e equipamentos. É o desejo também do motorista Jilvan Santiago, 54. Atendido no hospital regional de Ceilândia após sofrer um mal súbito e ter ferimentos na cabeça e no braço, recebeu a indicação para fazer vários exames.

Na hora de fazer o agendamento, descobriu que o tomógrafo do hospital estava quebrado. Resultado: pagou R$ 1.500 do próprio bolso para adiantar o atendimento. “Agora vou ter que me virar”, diz ele, para quem “está difícil escolher candidato”. “Eles prometem muito.”

As reclamações de Jilvan e Nilma são exemplos de algumas das principais demandas citadas por pacientes ouvidos pela Folha.

Dados de uma pesquisa Datafolha, feita a pedido do CFM (Conselho Federal de Medicina) em maio e com amostra representativa da população, confirmam esse cenário.

Na ocasião, mais de metade dos entrevistados (55%) avaliaram a saúde no país como ruim ou péssima. Outros 34% avaliaram como regular e 10% como boa, avaliação que vale tanto para serviços públicos quanto privados.

Entre os entrevistados, 39% disseram esperar naquele momento por algum atendimento no SUS, como consultas, exames e cirurgias. O longo tempo de espera foi apontado como fator que mais contribuiu para os problemas.

Já entre os serviços apontados como de maior de dificuldade de acesso, estão consulta com médicos especialistas, tido como “muito difícil” e “difícil” por 74%, realização de cirurgias (68%), internação em leitos de UTI (64%) e realização de exames de imagem (63%).

Uma espera que é vivida pela auxiliar de serviços gerais Patrícia Marques da Luz, 33. Há dois meses, ela recebeu do médico a notícia de que precisaria de uma nova cirurgia devido à dor que vem e volta com força na perna desde que sofreu acidente de moto, há cinco anos.

Apesar da avaliação, ela relata que ainda não sabe quando será atendida.“Já não consigo nem trabalhar de tanta dor. Precisava ser mais rápido”, disse a auxiliar, que precisou procurar o pronto-socorro na última quinta por não suportar as dores.

Questionada, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal diz que prazos de espera por consultas variam conforme a demanda de cada região.

Sobre o tomógrafo do hospital de Ceilândia, afirma que aguarda uma nova peça para concluir os reparos e que está transferindo os pacientes que precisam de exames para Samambaia.

Fonte: Folha de S. Paulo