Nessa quarta-feira (17), foi encerrado o Curso Avançado de Patogênese do HIV, uma iniciativa que é realizada desde 2006, através de uma colaboração entre o grupo do Prof. Dr. Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e o Prof. Dr. David I. Watkins, então filiado a Universidade de Wisconsin, Madison, EUA, e atualmente pesquisador daUniversidade de Miami, EUA.

O principal objetivo do curso é beneficiar estudantes, professores e cientistas brasileiros com dificuldade de participar de eventos internacionais, trazendo para São Paulo um curso que abordasse os mais novos achados sobre a patogênese do HIV/aids e que possibilitasse uma maior interação entre tais profissionais e o avanço do conhecimento nesta área.

Trazer pro Brasil a oportunidade de ter acesso à uma ciência de ponta, debates de assuntos importantes para a realidade da epidemia de HIV/aids brasileira, além de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e criar oportunidades para estudantes brasileiros encontrarem formas de terem acesso a avanços em seus estudos, inclusive fora do Brasil”, afirma o Prof. Dr. Esper Kallás. 

Ele destaca, também, a presença especial do Tim Brown, o primeiro paciente do mundo e até então, o único a se curar do HIV. “Ele nos brindou com uma experiência que considero única. Conseguimos entender o que passou na vida dele durante esse processo, o que tem passado agora e foi importante para revigorar o que precisamos enfrentar ainda para atingir uma cura que seja popular para as pessoas que vivem com HIV/aids.”

Para o infectologista, Ricardo Vasconcelos, “o curso está se tornando um dos principais eventos de atualização para quem trabalha com HIV. É também um dos eventos mais completos porque fala tanto da parte de epidemiologia, quanto da parte clínica e da parte de bancada, ou seja, de ciência básica. Tem uma qualidade incrível que é ser gratuito, aberto a quem faz estudo, pesquisa e pós-graduação e, por isso, é fundamental no Brasil.”

Segundo Ésper, os alunos tiveram acesso ao que existe de mais desenvolvido em pesquisas de HIV/aids no mundo. “A gente conseguiu cobrir a maioria das áreas, cada ano vamos mudando um pouco para enfatizar outras áreas. Precisamos, no próximo encontro, por exemplo, discutir um pouco mais sobre aids pediátrica ou sobre epidemiologia, mas sem dúvida as principais áreas que são: desenvolvimento de vacinas, tentativas de cura, envelhecimento de pessoas que vivem com HIV/aids, tratamento antirretroviral e formas de prevenção foram abordados com profundidade.”

Nesse sentido, o ativista Edmilson Medeiros sugere, para as próximas edições, um recorte racial para o atendimento médico.“Há pesquisas que mostram as diferenças no atendimento profissional com uma pessoa branca e outra negra. Ainda que não sejam falas intencionais, há muitas falas preconceituosas enraizadas, como por exemplo a ideia de que mulher negra é mais resistente à dor que mulher branca. Esse é um tema importante para de discutido aqui também.”

Além das questões científicas, o curso também abordou discussões de temas sociais através da mesa sobre gênero e visibilidade trans e debate sobre a quebra de mitos que giram entorno do HIV.

O estudante de medicina, João Paulo Bonato, afirma que para além da qualidade técnica dos estudos apresentados, “a discussão social também nos faz refletir para o nosso atendimento ao paciente. Enquanto profissionais, precisamos estar atentos a essas questões. É importante reforçar temas como estes durante as discussões, mesmo as mais técnicas.”

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)