O aumento de casos de sífilis no Brasil gera preocupação entre médicos e gestores. Segundo boletim do Ministério de Saúde , em 2018, foram notificados 158.051 casos de sífilis adquirida (transmitida de uma pessoa para a outra durante a relação sexual), representando um aumento de 28,3% em relação a 2017 , quando 119.800 casos foram notificados. Uma das infecções sexualmente transmissíveis (IST) mais comuns globalmente, o aumento no número de casos aponta para a consolidação de um cenário de epidemia.

Dos novos casos, 53,5% ocorreram na Região Sudeste. Entre os estados, a maior taxa de detecção foi em Santa Catarina – 164,1 casos por 100 mil habitantes. Outros cinco apresentam taxa maior do que a média nacional, incluindo o Rio de Janeiro, com 90,5 casos por 100 mil habitantes.

Para a médica Ruth Khalili, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/ Fiocruz ), o aumento do número de casos de sífilis está relacionado ao atual contexto social. Segundo ela, há pouca preocupação entre os jovens em relação às doenças sexualmente transmissíveis, além de relativo desconhecimento sobre essas doenças.

— O caso dos adolescentes e dos jovens adultos chama muita atenção pela negação da informação. A gente sabe conversar (no consultório) para usar camisinha não funciona, entra por um ouvido e sai por outro — diz a médica.

Gestantes e recém-nascidos

Segundo dados do Ministério da Saúde, 62.599 casos de sífilis em gestantes foram notificados em 2018. O número representa um crescimento de 25,7% em relação a 2017, quando 49.013 casos foram registrados.

Um dos maiores riscos da sífilis em gestantes é o da contaminação do bebê, tanto durante a gestação quanto na hora do parto, caso não haja conhecimento da doença. Quando há o conhecimento, o parto normal não é indicado para evitar o contato com áreas infectadas.

Segundo Ruth Khalili, o pré-natal deve conter testes para o diagnóstico da doença. Quanto mais cedo for diagnosticada, mais chances de se salvar a vida do bebê.

 

 

De acordo com os dados mais recentes, a maior proporção das gestantes com sífils (39%) conseguiu diagnosticar a doença no primeiro trimestre da gestação.

— Se a sífilis for diagnosticada mais para o fim da gestação, há um risco grande para o bebê. O teste para sífilis pode ser feito mais de uma vez durante a gravidez. Por isso, é importante conhecer o histórico dessa paciente, o seu contexto de exposição e nunca perder a oportunidade de testar a gestante —  diz Ruth Khalili.

Os casos de sífilis congênitas (as que são manifestadas em recém-nascidos) também cresceram no Brasil em 2018. Ao todo, foram 26.219 casos contra 24.666 notificados em 2017, representando um crescimento de 5,2%. A doença pode resultar em um baixo peso para o bebê, um nascimento prematuro, manifestações clínicas precoces ou tardias e até mesmo o aborto.

Entenda a doença

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) com cura, podendo aparecer em qualquer área de contato em uma relação sexual, como a boca. Por isso, por mais que o uso da camisinha seja essencial durante uma relação, ele não é suficiente quando o assunto é a prevenção da sífilis.

Para ela, as consultas médicas também são um ponto chave quando o assunto é prevenção da doença. Seria nesse contato entre médico e paciente que as informações e as orientações seriam passadas.

— Temos que aconselhar, explicar, orientar, mas muitas vezes o alto número de atendimentos acaba eliminado esse momento de orientação na consulta — diz a especialista.

Tratamento

O tratamento da sífilis é feita com uso de antibióticos. Quanto mais rápido for diagnosticada mais fácil é o tratamento. No entanto, o monitoramento da doença nos pacientes não é simples e se torna um desafio no combate à doença.

— Quando você trata uma pessoa, ela precisa retornar de três em três meses para fazer os exames de monitoramento. Na maioria dos casos isso não acontece e você não sabe onde essa pessoa parou com o tratamento. É difícil você ter um paciente que você segue ao longo do tempo. Muitos deles não completam o tratamento ou o fazem em intervalos inadequados —  diz Ruth Khalili.

Ruth Khalili ainda completa que a falta de ferramentas para acompanhar esses pacientes em tratamento dificulta a diferenciação dos novos casos daqueles que foram tratados inadequadamente.

— Considero que houve sim um aumento no número de casos, mas os profissionais que lidam com essa doença não têm ferramentas o suficiente para distinguir um caso que de fato é novo (e vale lembrar que a pessoa pode se infectar mais de uma vez) com os que tiveram falhas no tratamento. E aí esse caso que na verdade foi mal resolvido, quando volta para o médico, é notificado como um novo. Precisamos de formas mais padronizadas para monitorar a doença — diz Ruth Khalili.

 

Fonte: O Globo