O número de mulheres com aids caiu pela metade no Estado de São Paulo na última década, segundo balanço do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Esses dados revelam uma das facetas do comportamento feminino: o hábito de cuidar mais da saúde. Entretanto, entre mulheres idosas, os casos aumentaram.

“Mulheres se protegem mais, são mais cuidadosas, vão mais ao médico do que os homens. Além disso, tem a questão da maternidade: nesse período de reprodução, ela começa a fazer exames de acompanhamento, tem mais acesso à informação e mais possibilidades de ser orientada”, explicou a médica infectologista e coordenadora-adjunta do Programa Estadual DST/Aids de São Paulo, Rosa Alencar. E, ao engravidar, a mulher fica sabendo se tem ou não a doença: desde 1994, o teste de HIV é mandatório para todas que fazem pré-natal.

Menos drogas, menos casos

Para a especialista, outro motivo que impacta na queda dos casos entre as mulheres é o desuso das drogas injetáveis, que eram muito populares nas décadas de 80 e 90.

A queda de aproximadamente 50% é similar entre mulheres de 30 a 39 anos, que representam cerca de 1/3 dos casos notificados entre o público feminino. Em 2016, foram diagnosticadas 504 pacientes nessa faixa de idade; dez anos antes foram 1.053, uma queda de 52,1%.

Com idosas é diferente

Na contramão dos dados de queda que o Boletim Epidemiológico do CRT DST/Aids da SES revela, saltam aos olhos os dados relacionados a mulheres idosas. O número de diagnósticos de aids entre as idosas de 60 a 69 anos aumentou de 103 para 136 casos positivos (32%), no período. “Uma mulher de 60 anos de hoje não é igual a uma mulher dessa idade de anos atrás. Além da longevidade – que aumentou muito nos últimos anos – as pessoas ainda são ativas sexualmente com essa idade. Quando elas iniciaram suas vidas sexuais, a existência da aids não era difundida como hoje, nem os mecanismos de prevenção”, lembrou. “Eles têm menos preocupação com a infecção, e mais dificuldade de pensar em usar preservativo – masculino ou feminino”, identifica a infectologista.

Aids em homens

O total de casos de aids em homens também apresenta queda – de 7%, com uma redução de 5.465 casos para 5.087, na década. Os casos, com maior concentração na faixa-etária de 30 a 39 anos, tiveram queda de 1.995 para 1.619, comparando-se 2007 e 2016.

Em contrapartida, outras faixas-etárias indicam aumento no número de diagnósticos de casos de Aids. Houve um crescimento de 167% entre adolescentes de 15 a 19 anos do sexo masculino, com um salto de 43 para 115 casos nesse intervalo. Entre jovens de 20 a 24 anos, de 303 para 584 casos (93%). Assim como no público feminino, houve alta entre homens idosos (de 60 a 69 anos), passando de 147 para 193, um aumento de 31%.

A coordenadora-adjunta lembrou também que poucos dos jovens de hoje tiveram contato com o quadro da epidemia nos anos 80 e 90, quando muito mais gente morria de aids. “Hoje em dia, a aids é uma doença que tem controle. Se tomados corretamente, os antirretrovirais atuais podem conferir a uma pessoa que vive com HIV longevidade comparada a de uma pessoa saudável. Claro que é uma doença que não pode ser banalizada, mas hoje ela pode ser mantida sob controle.” Considerando ambos os sexos, em todo o ano de 2016 foram registrados mais de 6.794 diagnósticos de aids no Estado, 20% menos que dez anos atrás, quando ocorreram 8.495 casos. De janeiro a junho de 2017, foram 3.186 casos.

O número total de óbitos também caiu 23%, no período. Em 2007, foram 3.264 mortes, contra 2.508 em 2016. Aproximadamente metade dos óbitos por aids no Estado estão relacionados ao diagnóstico tardio da infecção, que pode ser evitado com a realização do teste, que é gratuita e disponível em toda a rede pública de saúde.

E, nunca é demais lembrar: o uso de preservativo é a única proteção contra doenças sexualmente transmissíveis.