A Agência de Notícias da Aids ouviu os ativistas para o balanço do ano de 2019. Dentre as conquistas apontadas, eles elegeram a união e resistência do Movimento de Luta Contra Aids. Por outro lado, o avanço da onda de conservadorismo no governo atual, a desaposentadoria de pessoas que vivem com HIV/aids, mudanças na política de aids do país foram colocados como os principais pontos negativos. Confira os depoimentos:

 

Margarete Preto, Projeto Bem-Me-Quer: “2019 foi um ano difícil, iniciamos o ano sob um cenário político desfavorável em diversas áreas como nas políticas públicas, na garantia de Direitos, na defesa do SUS , na educação, nas questões previdenciária, controle social, etc. A reforma da previdência foi um descalabro, sobretudo para os mais pobres. Dentre tantos prejuízos como a desaposentação, tivemos uma grande vitória, através da luta do Renato da Matta, que conseguiu a dispensa da revisão de aposentadoria para as pessoas vivendo com HIV/aids. Tivemos uma grande perda com a mudança do Departamento de IST /Aids e HV para Departamento de Controle de Doenças Infecciosas, essa mudança na estrutura é a invisibilidade sobre a aids, lança uma sombra sobre os estados e municípios que não são sensíveis a causa da aids, e coloca em xeque a garantia de políticas públicas que foram construídas e conquistadas com muita luta. Esse cenário conservador é um retrocesso para as campanhas de prevenção, sobretudo para as populações mais vulneráveis. Mas tivemos avanços importantes como, a certificação na cidade de São Paulo que conseguiu a eliminação da Transmissão Vertical, a ampliação da PREP e a divulgação do I=I que são importantes estratégias de prevenção. A indetectabilidade do HIV é de extrema importância para a redução do estigma e do preconceito, pois tira a PVHA do lugar que a colocaram como vetor da aids, uma vez que sendo indetectável, o vírus do HIV não é transmitido e devolve a dignidade para as pessoas vivendo com HIV. Todavia, ainda estamos longe da cenário ideal, não há garantias do financiamento das ações da aids para 2021, estamos frente a possibilidade de mudança na estrutura do Programa Estadual de DST /Aids, que sempre esteve nas dependências do CRT/Santa Cruz, para se mudar para a CCD na Secretaria Estadual de saúde. Essa mudança pode trazer inúmeros prejuízos, o mais importante Serviço Especializado em DST/Aids, pode se tornar um simples SAE, sem o monitoramento e acompanhamento do PE. Em 2020 seguiremos em frente juntos na defesa de um SUS universal e na defesa da políticas públicas para a resposta do HIV.

 

Vando Oliveira, Rende Nacional de Pessoas que Vivem com HIV/Aids: “2019, Foi marcado pelo começo do fim da política de Aids do Brasil, com um governo que rebaixa um programa de aids que já foi modelo para o mundo todo, alem disso incentiva os Estados e Municípios a atender as pessoas que vivem com HIV/aids na atenção básica, colocando os novos diagnósticos já em risco de Abandono, E o que já é um grande problema, só tende a piorar.”

 

Marco Aurélio Tavares Bastos, jornalista e ativista: “O mais importante de se perceber em 2019, é que pelo simples fato de tentarem novamente o que foi feito em 2012 que é separar o Programa Estadual do CRT, em uma semana conseguir mobilizar uma grande gama de pessoas com um abaixo assinado que, em dois tinhas já tinha 15 mil assinaturas, isso mostra que continuamos muito atentos a essa questão. É com alegria que vejo que a gente é um fonte de resistência em todos os aspectos, porque de resto a política está caótica. Por isso, vamos mobilizar cada vez mais pessoas contra qualquer governo transitório.”

 

Alisson Barreto, Grupo de Incentivo à Vida: “2019 foi um ano de muito de muitos retrocessos para as pessoas vivendo, na minha opinião o maior deles aconteceu em maio, quando ocorreu a mudança do nome do Departamento de IST/HIV/Aids e Hepatites Virais para Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. A retirada da palavra aids significa uma invisibilidade total das demandas especificas. Também teve as campanhas de prevenção, primeiro a do carnaval, ficada somente nos homens heteros cis, esquecendo das populações que são mais vulneráveis que aparecem nos boletins epidemiológicos. Depois teve a campanha falando sobre ISTs, não é possível que em pelo 2019 e ainda o governo faça uma campanha focada no medo, uma estratégia que sabemos que não é eficaz, temos que orientar, não amedrontar. Mas esse ano não foi somente de notícias ruins, foi ótimo saber que a Cidade de São Paulo conseguiu eliminar a transmissão vertical do HIV. Isso mostra que se o trabalho for levado a sério, conseguimos ter bons resultados. Claro que o ideal seria que mais cidades brasileira tivessem esse resultado, somente 3 cidades conseguiram isso , mas isso mostra que é possível.”

 

Rodrigo Pinheiro – Presidente do Fórum das ONG/aids do Estado de SP: “Foi um ano de grande retrocesso para o enfrentamento da aids, hepatites virais e tuberculose, principalmente com o início deste novo governo, tirando a visibilidade dessas patologias. Isso mostra o quão ser difícil vão ser esses  próximos anos pra gente mostrar que essas patologias continuam sendo um problema de saúde pública. E isso reverbera também nas ações estaduais e municipais, com o Programa Estadual de DST/aids de São Paulo sendo ameaçado de perder uma estrutura importante que tem sido referência no enfrentamento da epidemia da aids no país. Os gestores não conseguem ter uma visão que a aids continua sendo um problema de saúde pública e ela precisa ser fortalecida na sua resposta, principalmente quando o Ministério da Saúde coloca ações para atenção primária, não que sejamos contrários a essa questão, mas isso enfraquece o serviço especializado que atende pessoas vivendo com HIV/aids. Então, com este processo de retrocesso, a questão de acesso ao tratamento foi bem ameaçada durante este ano e a gente tem vários desafios para 2020 no enfrentamento da aids, hepatites virais e tuberculose.”