Uma reunião entre o gerente do Centro de Referência e Defesa da Diversidade, Eduardo Barbosa, e a Secretaria de Direitos Humanos aconteceu nessa quinta-feira (27) a fim de definir o futuro do serviço que atende a população LGBT em vulnerabilidade, na cidade de São Paulo desde 2008. Com o fechamento do CRD comunicado no último dia 19,  o serviço só teria condições de continuar as atividades até a próxima segunda-feira.

No entanto, segundo Eduardo, a reunião foi positiva e a Secretaria de Direitos Humanos, a qual ficaria responsável pela continuidade do trabalho, prometeu reverter a situação. “Ficou acertado que já teremos o convênio novamente assinado até segunda-feira. Nos disseram que já estavam em processo de viabilização”, explicou.     

Fundado em 2008, o CRD é gerido pela ONG Grupo Pela Vidda SP e faz parte de um conjunto de políticas públicas voltadas à população LGBT.

“Somos o único serviço no Brasil que atende essa população na área da assistência social. Isso para o país é inédito. Onde as pessoas vão ser acolhidas? Que tipo de atendimento elas vão ter em outro serviço que não está preparado para atender a essa população? Não entra só a questão da orientação sexual e identidade de gênero, mas em relação a estigma, preconceito, à marginalidade que essa população se encontra. Então o CRD tem esse diferencial que é fazer o acolhimento e tratar as condições dessas pessoas em sua individualidade, o que é muito importante”, explica Brunna Valin, técnica do CRD. 

Brunna explica que, além do processo de autonomia promovido aos usuários do serviço, o Centro também faz o trabalho de reinserção social. “Não é um trabalho de inclusão, mas de reinserção mesmo, para reinserir esse cidadão ou cidadã em um lugar do qual eles já foram expulsos, excluídos.”

Do Fórum de ONGs Aids de São Paulo, Rodrigo Pinheiro repudiou o anúncio do fechamento. “Pedimos uma reavaliação por parte do prefeito. Porque é um retrocesso na política pública para o enfrentamento da aids e principalmente com a população atendida no CRD, já que o município não oferece muito em questões sociais para essa população tão vulnerável. Não esperávamos isso do atual prefeito, que sempre foi um parceiro e que reconhece o enfrentamento.” 

Toni Reis, presidente da Associação Nacional LGBTI+, “há mais de 10 anos o CRD firmou-se como serviço único de porta aberta, como modelo nacional de acolhimento e inserção social dapopulação LGBTI+ em situação de risco e extrema vulnerabilidade na cidade de São Paulo. Discordamos da noticiada e tecnicamente equivocada alegação de que o CRD seja descartável, pois realizaria as mesmas atividades dos Centros de Cidadania LGBT. As Políticas de Assistência Social e Direitos Humanos, que corretamente ocupam secretarias distintas da Prefeitura, são complementares, mas não são sobrepostas nem substituíveis.

Durante a Parada LGBTI+ de São Paulo no último domingo (23), o presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, manifestou a preocupação aqui externada ao Prefeito de São Paulo, Bruno Covas, quando os dois se encontraram no Camarote Solidário. O Prefeito afirmou não ter conhecimento da decisão de fechar o CRD e que não é uma política municipal reduzir os equipamentos públicos de atendimento à população LGBTI+.

A Aliança Nacional LGBTI+ espera que prevaleça a afirmação do Prefeito e que seja anulada a decisão anunciada no dia 19 de junho pelo Secretário Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Marcelo Del Bosco, sobre o fechamento do CRD.

A ativista Silvia Almeida, também repudiou a possibilidade de fechamento do serviço. “Lamentável que em meio a uma grande reestruturação financeira da Prefeitura, a população mais vulnerável seja a mais afetada. Os serviços prestados pelo CRD, são direcionados a uma população extremamente diversa e não será tão fácil realocar esse público e serviços com a qualidade de atenção que esse espaço oferece.”

O vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), Veriano Terto, afirmou que “o fechamento do CRD com a justificativa de que já existiria um outro centro de acolhimento e diversidade é inaceitável até porque, na verdade, deveriam ter não apenas dois, mas três, quatro Centros de Referência e Diversidade em São Paulo considerando as dimensões de impacto da epidemia na população LGBT, especialmente na população trans, e a população que trabalha com a prostituição. Realmente é mais uma precarização do pouco que a sociedade civil e essas populações tem conquistado em termos de direito à saúde. Um outro ponto não daria conta da demanda, especialmente pela localização geográfica do CRD, que é no coração da região onde essa população vive. Esperamos que a prefeitura de São Paulo reveja essa triste decisão. E, em vez de fechar, procurem criar outros Centros para dar um bom exemplo de enfrentamento.”

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)