O presidente Jair Bolsonaro se manifestou sobre a campanha do governo que incentiva a abstinência sexual como prevenção de gravidez precoce e infecções sexualmente transmissíveis. Ao sair do Palácio da Alvorada, na manhã desta quarta-feira 5, Bolsonaro disse que uma pessoa que vive com HIV é uma despesa para todos do Brasil.

“Uma pessoa com HIV, além de ser um problema sério para ela, é uma despesa para todos aqui no Brasil”, disse o presidente, que relatou como exemplo o caso de uma jovem que supostamente teve o segundo filho aos 15 anos e que contraiu HIV na terceira gravidez.

Ativistas do Movimento de Aids afirmar que a declaração soa absurda e ignora o fato de que todas as doenças são responsabilidade do Sistema Único de Saúde. Confira os depoimentos a seguir:

 

Silvia Almeida, ativista vivendo com HIV há 30 anos: “O Sr presidente deve saber que “toda doença” e que toda epidemia é para o SUS (existente neste país) uma responsabilidade! Algumas doenças são previsíveis, outras não, mas para que esta prevenção seja eficiente, é necessário saber quais ações são necessárias e eficazes, não olhar para a Saúde Sexual e Reprodutiva como um todo não vai resolver a questão do HIV. Ao Governo um pedido: “vamos falar sobre isso”?”

 

 

Moysés Toniolo, membro do Conselho Nacional de Saúde representando a Articulação Nacional de Luta Contra a Aids: “Creio que seja necessário uma manifestação contundente sobre uma figura pública se pronunciar desta forma errônea e preconceituosa, misturando assuntos da pasta de Damares e sua campanha pela abstinência, e a valoração sobre a vidas das Pessoas Vivendo com HIV e aids (PVHA). Não somos custo para o Estado pois o direito à saúde nos foi dado pela Constituição Federal de 1988, e institui um estigma como se toda PVHA fosse culpada pela sua infecção, mostrando ignorância e preconceito sobre uma epidemia onde o Brasil foi referência por saber lidar com a assistência, tratamento e respeito aos direitos humanos. Mal sabe o mito do desgoverno que existem pessoas de todos os tipos e jeitos que se infectaram, inclusive em todas as classes – inclusive política e religiosa, mas cuja maioria seguem sendo cidadãs/cidadãos de direito e não são vetores da infecção, e cumprindo suas responsabilidade civil pois não transmitem mais vírus. Direitos não são produtos que se dá ou tira a bel prazer de desgovernos, pois as medidas que salvaram e salvam vidas diariamente não são um gasto mas investimento em vida, dignidade e saúde humana que faz com que o Brasil ainda seja bem visto pelos demais países no mundo inteiro.”

Pisci-Bruja, Loka de Efavirenz: “Hoje Bolsonaro dá mais um passo rumo à naturalização do absurdo. Precisamos considerar que um ataque desses às pessoas vivendo com HIV, e também ao direito de toda a sociedade à saúde, ao sexo, à sexualidade e a reproduzir ou não está vindo junto com a campanha de um governo teocrático e neopentecostal que tenta impor uma abstinência sexual. Eles (o governo) sabem que sua campanha já nasce morta! Não há evidências científicas que comprovem sua eficácia, muito pelo contrário. Países que adotaram estas políticas como EUA e Uganda, por exemplo, viram suas epidemias crescerem vertiginosamente. Mas isso não importa pra eles. O que pretendem é impor uma agenda religiosa goela abaixo da sociedade, ao passo que enxugam e eliminam todos os direitos sociais e humanos relacionados à saúde, e os enterram junto com o SUS e com as populações mais marginalizadas e expostas às violências. E não poder reagir diante às doenças é parte dessa violência estrutural e estruturante que promove genocídios desde que a primeira pessoa branca pisou neste solo. A partir do momento em que há uma campanha de abstinência sexual, de um lado, e, do outro, uma “perversão”, todo corpo adoecido, violentado ou com gravidez indesejada, a esses corpos (nossos corpos transviados) nos será dito mais uma vez: “a culpa é sua”, de forma tranquila e “natural”, como fazem há milênios. E todas as questões sociais, como a constante eliminação de direitos serão mais uma vez esvaziadas. É tempo de reagirmos com fogo pra não permanecer sendo engolidas. Sim, com fogo!”

 

Credileuda Azevedo, Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Não entendo que nós Pessoas Vivendo com HIV/Aids somos custo para o Estado. Essa é uma forma preconceituosa, errônea, como também uma ignorância deste desgoverno, temos nossos direitos e isso inclui a saúde que está dentro da Constituição Federal de 1988. Essa fala só mostra Estigma e preconceito que tanto temos batalhado para acabar,como também um retrocesso aos Direitos Humanos. Um absurdo e falta de sensibilidade.”

 

 

 

Dica de entrevista

Pisci – Bruja

E-mail: piscibruja@gmail.com

 

Credileuda Azevedo

E-mail: credileudaazevedo@gmail.com

 

Moysés Toniolo

E-mail: redebahia@yahoo.com.br

 

Redação da Agência de Notícias da Aids