A Agência Aids repercutiu a entrevista da ministra da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos Damares Alves à BBC Brasil com jovens ativistas. A ministra defende a divulgação da abstinência sexual como prevenção nas escolas, condena o aborto e afirma haver pressão social da sociedade para que meninas se assumam bissexuais. Confira abaixo a repercussão:

Carlos Henrique de Oliveira – Carlos Henrique de Oliveira é escritor, mestrando em Ciências Humanas e Sociais na UFABC. É ativista do coletivo Loka de Efavirenz, da Rede de Jovens São Paulo Positivo e da Resistência/PSOL.

A fala da ministra Damares Alves demonstra algo que Angela Davis vem dizendo há muito tempo: que as opressões andam juntas. Pois bem, seguindo a linha de juntar a total proibição do direito ao corpo por parte das mulheres e homens trans na questão do aborto, fazendo um discurso da demonização das pessoas que procuram o aborto como última opção após o estupro, chamando-as inclusive de “carrascas”, Damares vai além, e une essa pauta à pauta da saúde sexual. E eles, da extrema-direita são muito espertos mesmo: sabem que direito ao corpo e direitos sexuais tem tudo a ver com saúde sexual, com prevenção e assistência de saúde sexual… Daí que a solução fundamentalista religiosa para prevenir as IST é o bom e velho celibato, a heterossexualidade e o sexo após o casamento. Nada contra quem trilha esses caminhos, “até tenho amigos assim”, como costumam dizer alguns heteros quando se referem a LGBTIs, mas se essa premissa fosse verdade, nós não teríamos tantas mulheres casadas infectadas por HIV ao longo dos trinta anos da epidemia. Se fosse verdade essa premissa, nós não teríamos uma geração de pessoas que nasceram com HIV/Aids nas décadas de 80 e 90… O que quero dizer com isso: a extrema-direita e a Damares não se apoiam em absolutamente nada de concreto, nada de científico, para pautar suas soluções mirabolantes. Tudo gira em torno do simbólico, do mito, e por quê não dizer: da mentira. O fato é que mais uma vez, Damares atrapalha a vida das LGBTI+, e põe em risco acúmulos importantes do Brasil no enfrentamento às epidemias de aids e IST. O fundamentalismo sempre é algo muito perigoso.

 

Rafael Sann – Membro Colegiado da Rede de adolescentes e Jovens que Vivem e Convivem com HIV/AIDS DE MG

A ministra tem uma fala ditatorial e impositiva, ao afirmar que abstinência é a melhor forma de prevenção. Quem deve escolher isso é o jovem, formado por uma educação sexual efetiva nas escolas, precisamos conversar sobre todos os métodos de prevenção de ISTs e gravidez. Desta forma, não importa quantas relações sexuais o jovem vai ter, se todas forem embasadas num conceito concreto de autocuidado. Precisamos dar condições aos nossos jovens de entender o que é sexo seguro para ele, pois o que é seguro para mim, pode não ser seguro para outro jovem. Educação sexual nas escolas também contribui muito para a descoberta da sexualidade. A própria ministra na entrevista coloca a educação sexual como primordial nas escolas, e eu concluo dizendo que uma boa educação sexual hoje é o caminho para erradicarmos algumas doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e até índice de suicídio. O atual governo está com uma forte tendência de olhar para problema com imediatismo, não analisa a raiz estrutural do problema. Com isso estão nos levando a um retrocesso gigantesco.

 

Dica de entrevista:

 

Carlos Henrique de Oliveira

E-mail: carlosdeoliveirai890@gmail.com

 

Rafael Sann

E-mail: rededejovensmg@gmail.com

 

Redação Agência de Notícias da Aids