A ativista observadora, Silvia Aloia, do Movimento Nacional da Cidadãs Posithivas, escreveu, em artigo para a Agência de Notícias da Aids, os seus destaques da 22ª Conferência Internacional de Aids, que chega ao fim nesta sexta-feira (27), em Amsterdã, na Holanda. Nos últimos cinco dias, ela acompanhou de perto como os militantes de diferentes regiões do mundo se organizam para lutar pela garantia dos direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids.

Silvia participou ainda de manifestações pelo acesso universal aos antirretrovirais e defendeu a pauta das mulheres em vários debates, incluindo a articulação com outras ativistas vivendo com HIV/aids da América Latina. Leia o texto a seguir:

A indicação do meu nome para representar o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) na 22ª Conferência Internacional de Aids, em Amsterdã, na Holanda, foi um reconhecimento ao trabalho que realizo no Brasil, fiquei bem motivada. Essa é a minha primeira participação no maior evento de aids do mundo, aqui pude debater com profundidade questões de gênero e aids, apesar de diferentes culturas e diversidades. Nós, mulheres, temos muito em comum como, por exemplo, os entraves relacionados ao machismo, sexismo e misoginia.

Os painéis de discussões, oficinas e manifestações trouxeram à tona vários problemas que temos no Brasil e no mundo relacionados ao desabastecimento de medicamentos, quebras de patentes, criminalização do HIV, ausência da cooperação internacional, a falta de ações efetivas para a prevenção, dentre tantos, que geraram manifestações conjuntas com outros movimentos brasileiros.

O protesto foi eletrizante desde a sua construção até a execução com o grito “Shame, Shame”, passando pelos estandes dos laboratórios e finalizando no espaço destinado ao Ministério da Saúde do Brasil, foi muito gratificante e emocionante viver este momento.

Outro ponto relevante para o MNCP foi a participação e estreitamento de laços junto aos países da América Latina, a qual o nosso movimento já tem agenda prevista de ação de planejamento e fortalecimento junto ao Movimento Latino Americano e Caribenho de Mulheres+ (MLCM+).

Temos muito a fazer no que permeia as mulheres que vivem com HIV/aids, lembrando sempre da grande diversidade que temos e que muitas vezes o que mais nos afeta não é a sorologia e sim a desigualdade de gênero, o racismo, o sexismo, a falta de oportunidades que nos deixam suscetíveis ao adoecimento.

Na estratégia de prevenção combinada, é necessário somar esforços na dimensão estrutural das ações. Só conseguiremos avançar nas respostas da luta contra a aids quando vencermos as barreiras dos estigmas, preconceitos e das desigualdades.

Me despeço da Conferência agradecendo a oportunidade pelas riquíssimas trocas. Senti falta da participação de mais mulheres brasileiras vivendo com HIV neste evento, em especial, as jovens. Hoje eu falo por mim, por aquelas que não podem mais falar, por aquelas que ainda não conseguem falar e por aquelas que sequer sabem que têm voz.

* Silvia Aloia é secretaria Nacional do MNCP, integrante dos Grupos de Trabalho Unaids e dos ODS da Agenda 2030 e representante da Anaids na Comissão Intersetorial de Saúde das Mulheres do Conselho Nacional de Saúde.