Ativistas e gestores se emocionaram durante a entrega do 1º Prêmio Araújo de Ativismo e Direitos Humanos que aconteceu na tarde dessa quarta-feira (27), no centro da cidade de São Paulo. O objetivo da cerimônia foi reconhecer pessoas e instituições que desempenham papéis fundamentais na luta contra a aids. A iniciativa do Movimento de Luta Paulistano Contra Aids (Mopaids) é também uma homenagem ao ativista José Araújo que morreu em setembro deste ano.

“Ao longo dos últimos 30 anos, sua atuação em defesa das pessoas que vivem com HIV e aids, pela valorização do SUS e em favor das populações mais vulneráveis foram marcas de imenso impacto que Araújo deixou na luta contra a aids no Brasil”, disse Isabel Bala, do Mopaids.

Além de ter sido diretor da Associação Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada, e integrando do Grupo de Incentivo à Vida, Araújo também foi um dos mais importantes entusiastas da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+), fundada em 1995. É em resposta a esse legado e ao mesmo tempo homenageando ONGs, pessoas e instituições que tem contribuído para o Mopaids, que se realiza o prêmio que será entregue sempre às vésperas do Dia Internacional de Luta Contra a Aids.

 

Reconhecimento

Dando continuidade às considerações sobre o trabalho de Araújo, a integrante do Mopaids, Patrícia Perez, ressaltou algumas palavras escritas por pessoas que admiravam o ativista.

“Ele foi um grande defensor do SUS e intransigente na defesa dos direitos humanos”, disse Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo.

Já Harley Salvador, relembrou que “Araújo contribuiu participando de uma campanha que buscava visibilidade e quebra de estigma das pessoas vivendo com o vírus, compartilhando sua história pessoal que depois se tornou uma referência mundial.”

“Araújo nunca se curvou, nem se entregou. Arrojado, polêmico, irredutível diante das omissões dos governos e das falhas das políticas, fez diferença na luta contra aids”, disse Mário Scheffer, da ONG Pela Vidda.

A premiação foi dividida em doze categorias. Acompanhe os vencedores em cada uma delas:

 

Organização Não Governamental

Silmara Letti, do Epah recebe prêmio na categoria ONG

Foram homenageados: Maria Angélica, da ONG É de Lei e Silmara Letti do Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada (Epah).

Em seu discurso, Silmara agradeceu a iniciativa e afirmou que “quem conheceu Araújo sabe o quanto ele lutou para que o SUS fosse excelência. Direitos humanos é e sempre será Araújo”.

Direitos Humanos

O vereador do PSOL, Celso Giannazi enviou a representante Mariana Pereira para receber o prêmio. Ela aproveitou para parabenizar essa iniciativa e motivou a sociedade civil a continuar na luta pelos seus direitos.

Juventude

A integrante do coletivo Loka de Efavirenz, Carolina Iara, recebeu o reconhecimento por seu ativismo. Em seu discurso, ela disse que “o legado que Araújo deixa é o de que a gente não pode perder a ternura e não pode ter medo de ser polêmico, de falar o que tem que ser falado, doa a quem doer. Temos que aprender com ele, temos muito o que avançar.”

Mobilização Social

A coordenadora do Programa de DST/Aids, Cristina Abbate entrega o prêmio a Lucia Gatti

A vencedora nessa categoria foi a servidora pública aposentada e agora ativista, Lucia Gatti. “Falar do profissional de saúde é não esquecer que estamos virando peça rara, infelizmente. O servidor público deve estar à serviço da população. No entanto, não fosse a presença de muitos atores que estão aqui, até nós mesmos, servidores, teríamos muitos outros problemas nos serviços”, disse.

Assistência

A coordenadora adjunta do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, Maria Clara Gianna, representou a Dra. Claudia Binelli que foi médica de Araújo nos últimos anos. Emocionada, Maria Clara lembrou que o ativista nunca quis ser tratado diferente dos outros pacientes.

Responsabilidade Social

O diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos Miranda, representado pela gerente de saúde da instituição, Maria Odete, venceu a categoria pelo trabalho de visibilidade ao HIV. “O Sesc, que foi criado há 73 anos, tem missão de proporcionar o bem estar e qualidade de vida de seus clientes e da comunidade em geral, o que não seria possível sem assumir a temática do HIV. Olhar o outro, cuidar do outro, receber com carinho é fundamental”, disse Maria Odete ao afirmar que na semana do primeiro de dezembro serão realizadas, nas unidades do Sesc, mais de 60 atividades sobre o tema.

Pessoa vivendo com HIV/Aids

O vencedor desta categoria foi o coordenador do Mopaids, Américo Nunes, que ofereceu a homenagem a todas as pessoas que vivem e convivem com HIV/aids. “É um mérito de todos nós, incluindo as pessoas que são soronegativas, mas que estão também lutando por essa causa.”

Comunicação

Roseli Tardelli e Maria Odete

A diretora da Agência de Notícias da Aids, Roseli Tardelli, recebeu o prêmio pelo trabalho realizado por meio da comunicação. A jornalista afirmou que “não gostaria de estar recebendo este prêmio devido à sua circunstância, assim como não gostaria que o irmão tivesse morrido de aids nos anos 90. Espero mesmo que as pessoas com HIV vivam muito”.

Pesquisa

Margarete Preto entrega prêmio a Jorge Beloqui

O ativista Jorge Beloqui, ao receber este prêmio, ressaltou a história do ativismo de Araújo para além do Brasil. “Ele estabeleceu um vínculo muito positivo no Japão. Foi muito importante para as pessoas com HIV desse país. Quase todos os finais de ano ele ia para chamar a atenção para essas questões do outro lado do mundo e apoiou e mobilizou importantes decisões por lá.”

Honra ao Mérito

O familiar de José Araújo, Reginaldo Waki, recebeu a placa de reconhecimento do trabalho do ativista. “Não tenho palavras para agradecer e para dizer o quanto ele foi importante para todos nós. Ele vive em cada um de nós”, disse.

Homenagem 

O coordenador do Mopaids, Américo Nunes e Cristina Abbate

Ao final, a cerimônia também homenageou Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo pela certificação recebida devido à eliminação da transmissão vertical do HIV na cidade de São Paulo. “Isso é resultado do envolvimento de muitos profissionais. Levem com vocês a lembrança desse momento, porque é algo muito ímpar na resposta ao HIV”, disse ao agradecer a todos os profissionais envolvidos na luta contra a epidemia. 

 

Marina Vergueiro