Por José Araújo Lima*

São Paulo, minha cidade querida, você merece todos os cumprimentos do mundo. Você é como bambu, dobra, mas não quebra. Até quando? No teu peito que deveria bater a política do país, tem servido há anos de palco para disputas de podres poderes onde o seu povo clama por milagres e tem como resposta a indiferença. Milagres não existem.

Seu pulso ainda pulsa querida cidade, mas o oxigênio está no limite quando você é simplesmente usada como barganhas partidárias. Seu pulso clama por serviços de saúde na sofrida periferia onde os profissionais aposentados são ocupados pelos fantasmas da indiferença.

Os serviços especializados caminham para uma vala comum, onde a gambiarra com a saúde pública tem sido uma rotina. Você, minha cidade querida, ficou feliz quando soube que o “Corujão da Saúde” prometia zerar a fila de consultas, mas o resultado é no mínimo questionável afinal, outra fila foi criada. Hoje, um exame com urologista demora cerca de 250 dias.

Você viu as pessoas com os exames realizados em hospitais privados e sem médicos para atendê-los no serviço público.

Os CTAs (Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/Aids) cada vez mais negligenciados, onde a decisão autoritária do coordenador regional da zona sul com uma canetada conseguiu eliminar dois serviços, sendo que um foi ressuscitado graças a luta da sociedade civil e de profissionais da saúde comprometido com a saúde do seu povo. Quanto ao outro serviço, restou uma placa e dois profissionais que dividem um pequeno espaço em um SAE (Serviço de Atendimento Especializado em DST/Aids).

Sei como se sente minha São Paulo quando um adolescente recebe um teste positivo para o HIV e tem a primeira consulta marcada para quatro meses depois. Que alívio o  Programa de DST/Aids, depois de uma denúncia do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids), ter agido rapidamente para reparar essa falha. Sei que você vai dizer que a solução dada para este adolescente não é o caminho ideal, e não é, pois uma política pública de saúde comprometida não permitiria falhas como essa.

Sei que se sentiu enganada quando chegaram os remédios “doados” pelas indústrias farmacêuticas e 1/3 deles, no mês de novembro, foram jogados no lixo em razão da data de vencimento estar expirando. Sim, seus moradores não precisavam passar por tal humilhação, afinal, se você é a mais rica das cidades do Brasil, onde está o seu dinheiro?

Você foi chamada de “Cidade Linda” e sei que recusou este título, você não quer o marketing da beleza, mas o desejo de ser a cidade mais humana do mundo.

Ser uma cidade humana está difícil, no legislativo os mesmos que retiram impostos das igrejas e clubes de futebol, viraram as costas para as suas crianças que precisam de creches e jovens que clamam por empregos e lazer.

Minha querida São Paulo, ao menos neste dia, seja feliz e exija justiça contra os moradores que tão mal te causam. Diga que você não é uma cidade para ser administrada a distância ou pelas redes sociais.

Você não merece ver seus filhos amados da periferia sofrendo com os metrôs abarrotados e trens sucateados. Não dá mais para fechar os olhos e assistir o governo estadual agindo como se tivesse recém-chegado a maior cidade do Brasil.

Também é inaceitável que a política federal não tenha previsto a epidemia de febre amarela, será que este povo merece doses fracionadas de vacina?

Minha São Paulo querida, que na sua festa de aniversário, estejam presentes os que te amam, não os que te usam, e que estes sejam barrados de forma humilhante. Quero te dizer um segredo, que nem é tão segredo assim: “Eu Te Amo”.

* José Araújo Lima é um dos primeiros militantes na luta contra a aids na cidade de São Paulo. Atualmente coordena o Mopaids e o Epah (Espaço de Prevenção Humanizada).