Por Diogo Henrique Lins*

27/11/2017 – Estamos prestes a atingir um novo patamar no combate ao HIV com a implementação da PrEP (profilaxia pré-exposição)no SUS. Neste texto, tento contar um pouco sobre minhas impressões e experiências com a medicação.

Tive meu primeiro contato com a PrEP através das mídias sociais, em reportagens sobre o assunto. Achei a proposta interessante, pois seria mais uma forma de me prevenir. O marketing utilizado para divulgação dos projetos de pesquisas foi bastante convincente, falava de prevenção do HIV com apenas um comprimido por dia.

Sempre tive uma relação bem complicada com o medo, a ponto de eu achar que tinha o vírus sem mesmo ter tido nenhum envolvimento sexual com outra pessoa. O HIV acompanhou minha sexualidade, em meu circulo social a associação entre HIV e homossexualidade veio interpretada pelo viés homofóbico e sorofóbico do castigo. Então, cresci com a ideia de que se eu me relacionasse com homens seria infectado.

Das vezes que tive relação sexual fiquei muito fragilizado posteriormente, pois mesmo usando o preservativo, tinha quase certeza que havia contraído algo, quase como se uma punição me esperava por exercer uma sexualidade não legitimada.  O estigma sobre a homossexualidade e, entre nós gays, o estigma sobre a pessoa vivendo com HIV, resultam em um silêncio sobre o assunto e um sentimento de paranoia que atrapalhou diversas vezes minha prevenção. O estresse excessivo ligado ao sexo não me permitiu que tivesse um cuidado de forma que eu gostaria de ter. Algumas vezes tive relações em que o parceiro retirou o preservativo pelo fervor do momento e acabei aceitando, pois não queria quebrar o clima e isso mexe com a nossa autoestima, ainda mais se é um cara que você acha que é seu tipo ideal.

Tenho um problema sério com aftas recorrentes e isso me deixou vulnerável em diversas vezes que eu fiz sexo oral e deixei o cara ejacular na minha boca. Como isso acontece com certa frequência, achei interessante iniciar a PrEP ao invés de recorrer à PEP toda vez que achar que corri algum risco.

Sempre que converso sobre PrEP, procuro o significado mais amplo do assunto. Quando falo de PrEP, falo de autonomia: você tem o poder de escolher o melhor método de prevenção de acordo com seu comportamento atual. Falo de liberdade e principalmente de autoestima. Sim, autoestima, ao iniciar a PrEP você se empodera e não se faz depender do parceiro para sua prevenção. É algo íntimo e só seu.

O fato de eu ser usuário PrEP acrescentou muito no meu trabalho como agente de prevenção. Atualmente, a minha tarefa é descobrir festas em que o sexo acontece livremente, isso pode ser em uma boate ou festas particulares, dessa forma, fica mais fácil estabelecer um diálogo com pessoas com maior vulnerabilidade.

Quando comecei a falar com amigos e pessoas mais próximas sobre meu uso da PrEP, percebi certo estigma em torno da minha escolha. O maior questionamento é se eu não usava preservativo e como posso trabalhar com prevenção e não conseguir usar o preservativo em 100% das vezes?

Explico que o uso da PrEP vai muito além do preservativo. Por entender e perceber minhas vulnerabilidades e quais caminhos que minha sexualidade percorre, consigo fazer minha gestão de risco e usar PrEP de forma combinada, a qual consegue cobrir os momentos em que o preservativo não está.

Cada individuo vai ter sua motivação para dar inicio, cada um sabe o que se passa na sua cabeça e em sua vida. Sei que a PrEP só previne o vírus HIV, portando continuo atento às outras ISTS sempre fazendo testes para identificar quaisquer outras infecções.

#PrEParado #Liberdade #Autonomia #Tranquilidade #Autoestima #EuMeConheço

* Diogo Henrique Lins é formado em Gastronomia, trabalha como assistente administrativo e agente de prevenção do CTA Henfil.