No brasão que estampa a bandeira da cidade de São Paulo é possível ler a frase “Non Ducor Duco”, que traduzido do latim significa “Não sou conduzido, conduzo”.

O lema, mesmo tendo sido escolhido em 1917, na ocasião da criação do símbolo, não poderia ser mais adequado. Nesses 465 anos, a cidade de São Paulo por muitas vezes esteve à frente do seu tempo, liderando pelos caminhos que seriam seguidos posteriormente por todo o Brasil.

A história da luta contra o HIV é um exemplo disso. Em 1983, apenas um ano depois de diagnosticado o primeiro caso de infecção por esse vírus no país, em São Paulo já se montava o primeiro programa público de saúde com o objetivo enfrentar a nova epidemia. O Programa Nacional, do Ministério da Saúde, foi criado somente 3 anos depois, em 1986.

De lá pra cá, SP tem sido vanguardista em todas as novas ações de prevenção e tratamento do HIV, sempre presente e participante desde suas etapas iniciais. São exemplos disso a distribuição gratuita de preservativos fora dos serviços de saúde, que atualmente no município podem ser encontrados em todos os terminais de ônibus e de transporte público urbano, e a disponibilização de kits de autotestagem para HIV, que teve sua logística de distribuição para populações mais vulneráveis avaliada pelo Projeto A Hora é Agora – SP.

Além desses, um feito notável da cidade na luta contra o HIV foi a distribuição maciça de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), a mais nova estratégia de prevenção contra o vírus que tem revolucionado o controle da epidemia no resto do mundo. No dia 18 de janeiro, completou-se o primeiro ano de oferecimento de PrEP no SUS e, até agora, 30% das dispensas do medicamento em todo Brasil foram feitas somente no município de São Paulo. Junto com o resto do estado, esse número sobe para 41% das dispensas. Veja aqui os lugares onde é possível acessar PrEP em São Paulo.

Esse sucesso vem principalmente da gestão bem feita e interessada dos programas municipal e estadual de HIV, sempre priorizando os grupos mais vulnerabilizados para a epidemia, e de suas parcerias bem sucedidas com os centros de ensino e pesquisa, como a USP e a UNIFESP.

Os parabéns, no entanto, não significam que o HIV é uma questão já resolvida em São Paulo. Existe ainda muito a ser feito. Sendo a cidade mais populosa do país, SP registrou, no ano passado, 2.655 casos novos de infecção por HIV, o que representa 7% dos casos brasileiros. Considerando todo o estado chegamos a quase 20%, segundo o último Boletim Epidemiológico de HIV do Ministério da Saúde.

O processo para se atingir o controle do HIV/Aids é lento e trabalhoso, mas quando feito com seriedade e ciência os bons resultados sempre chegam. Uma prova disso é que somente nos últimos 10 anos, portanto antes do início da distribuição da PrEP, a taxa de detecção de casos novos de infecção por HIV no Estado de São Paulo caiu em 25% e o coeficiente de mortalidade por aids despencou em 41%.

A meta agora para São Paulo é ampliar ainda mais a cobertura de testagem, PrEP e tratamento do HIV. E assim fazer esses bons resultados chegarem para todos os que mais precisam, independente da sua raça, classe social, identidade de gênero e orientação sexual.

E você pode ajudar nisso. Se engaje na luta contra a discriminação e sorofobia, se interesse e fale sobre o tema HIV/Aids e ajude São Paulo a continuar liderando rumo o controle da epidemia.

*Rico Vasconcelos é infectologista formado pela Faculdade de Medicina da USP, trabalha e estuda, desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação, agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem paranoias, como torná-la mais saudável.