É no dia-a-dia que enfrentamos os preconceitos, o estigma em relação ao HIV/aids! Há muito sabemos que conscientização sobre a prevenção; informação sobre o HIV/aids, uso da camisinha, etc; têm que fazer parte do dia-a-dia das pessoas.  O futebol, paixão nacional, mobiliza milhares de pessoas pelo mundo e a Copa do Mundo é considerada o maior evento esportivo do planeta. O futebol está na vida cotidiana de tanto de homens quanto de mulheres e a ideia de que futebol é coisa para homem, já não faz mais sentido. No entanto, o grande envolvimento do público masculino com este evento nos traz uma ótima oportunidade de levarmos a esse público, cujos cuidados com a saúde são usualmente menores do que entre as mulheres, uma mensagem de alerta sobre a importância da prevenção e o cuidado em relação às ITS (Infecções de Transmissão Sexual)  e ao HIV/aids. Momentos como esse, de grandes festas, reuniões e comemorações em razão dos jogos da Copa do Mundo na Rússia deveriam ser também espaços para mensagens de prevenção.

Essa é a 21ª edição do torneio organizado pela FIFA, que reúne 32 países de todo o globo. É a 1ª primeira vez na história o torneio acontece na região do Leste Europeu e da Ásia Central. Ao olharmos para o último relatório anual do UNAIDS (2017) sobre as características da epidemia de HIV/aids ao redor do mundo, vemos que justamente a região da Europa Oriental e da Ásia Central, da qual a Rússia é o maior país, é a que traz alguns dos piores indicadores regionais. Por exemplo, na última década, nessa região, houve um aumento de 38% da mortalidade decorrente da aids além de uma escalada de 60% de novas infecções pelo HIV de 2010 a 2016.

Os dados sobre a situação epidemiológica na Rússia são escassos, evidenciando a falta de informação oficial sobre o HIV/aids no país e a consequente dificuldade de adoção de políticas adequadas ao seu enfrentamento. Em publicação de 2012, sobre as políticas para o HIV/aids na Rússia, a pesquisadora Ulla Pape, professora no Departamento de Estudos Europeus Integrados da Universidade de Bremen, na Alemanha. Autora do livro “The Politics of HIV/Aids in Russia”, refere estimativa das Nações Unidas de cerca de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV/aids na Rússia, em uma população de 143 milhões de habitantes. Para efeito de comparação, o Brasil estima pouco mais de 800 mil pessoas vivendo com HIV/aids em uma população total de mais de 210 milhões de habitantes.

A mesma autora destaca o forte estigma enfrentado pelas pessoas vivendo com HIV/aids nesse país, e revela um grande tabu na sociedade russa em relação à epidemia e temas como o uso de drogas entre os jovens, prostituição, violência sexual e homossexualidade. A Copa do Mundo, momento em que vários países do mundo estarão na Rússia levando suas culturas e costumes, parece ser uma grande oportunidade de levar ao país um olhar atualizado sobre a importância do enfrentamento da violência, da discriminação e do acesso à informação para prevenção ao HIV/aids, destacando, especialmente, a necessidade de envolvimento das populações mais vulneráveis à epidemia nessas ações.

Buscando dar destaque a necessidade de aproveitar desses grandes eventos para falar de prevenção e do enfrentamento às ITS e ao HIV/aids no Brasil, as ONGs Aids Healthcare Foundation (AHF) do Brasil e o Instituto Cultural Barong, com apoio da DKT do Brasil aproveitam o momento da Copa do Mundo para levarem para o cotidiano das pessoas mensagens sobre a importância da prevenção.  Em iniciativa conjunta entre as duas ONGs, os 32 países que disputam a Copa do Mundo inspiram sabores de 50 mil camisinhas que estão sendo distribuídas em bares de São Paulo durante os jogos do torneio, juntamente com tabelas de jogos da copa, chaveiros, porta-preservativos, com o tema da campanha “Proteja seu Jogador Número 1 – Entre no campo com a camisINHa certa”  pretende-se alertar as pessoas sobre a importância do uso do preservativo, trazendo o alerta para a significativa epidemia de DST/ HIV/aids no Brasil, na Rússia e em todo mundo e a necessidade de se informar e conhecer a epidemia  as diferentes formas de se prevenir.

Quem disse que Futebol, HIV/aids e Copa não dá uma boa ação de prevenção?

 

*Beto de Jesus é coordenador do Brasil na Aids Healthcare Foundation (AHF Brasil)