A Clínica do Homem do Recife é um sucesso. A equipe da AHF Brasil, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, já realizou, em um ano, mais de 15 mil atendimentos, com o diagnóstico de quase 1,7 mil casos de sífilis e 500 de HIV.

O primeiro ano trouxe para o cenário epidemiológico nacional a discussão de modelos híbridos de atenção à saúde para potencializar as respostas regionais frente à epidemia de HIV/aids e das infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Os números impressionam não apenas pela alta prevalência de HIV e outras IST, mas também pela ampla demanda espontânea da população por atendimento, evidenciando possíveis gargalos da rede pública local.

Não por acaso, o primeiro aniversário da clínica foi marcado por um evento na Associação Médica de Pernambuco (AMPE). Na ocasião, foram discutidos temas como a epidemiologia do HIV/IST no Brasil e em Pernambuco, além de aspectos relacionados à prevenção, ao diagnóstico, ao tratamento e aos cuidados com as pessoas que vivem com HIV/aids.

Destaquei alguns pontos importantes para o sucesso da clínica, entre eles o atendimento humanizado e diferenciado, por meio de uma equipe multidisciplinar capacitada tanto na parte técnica quanto no atendimento aos usuários.

O balanço que fazemos é positivo não apenas pela avaliação dos pacientes, mas também pela confirmação de que sociedade civil e poder público podem atuar conjuntamente para oferecer um serviço de saúde de qualidade. A criação de um espaço acolhedor para a população masculina e o horário diferenciado de atendimento sem dúvida contribuíram para aumentar a resolutividade no enfrentamento da epidemia em Recife e Pernambuco.

Desde a abertura da Clínica do Homem do Recife, em 14 de maio do ano passado, até junho deste ano, foram identificados 473 casos de HIV, de um total de 7.773 testes (prevalência de 6,1%). Praticamente 7 em cada 10 casos de HIV foram em adultos jovens, com idades entre 22 e 37 anos.

Do total de casos de HIV positivo, a grande maioria (366/77,4%) não sabia que tinha o vírus e 90,7% foram em homens homossexuais, bissexuais ou homens que fazem sexo com outros homens.

É importante destacar, no entanto, que o HIV não é a infecção sexualmente transmissível (IST) mais frequente na Clínica do Homem do Recife. A sífilis segue sendo, disparado, o diagnóstico mais comum na unidade, com 1.695 casos desde maio de 2018 (positividade de 22,4% em relação aos 7.567 testes rápidos realizados).

Metade dos casos de sífilis foi em homens de 22 a 33 anos e um terço dos que tiveram diagnóstico positivo já tinha realizado tratamento para a infecção antes (ou seja: voltaram a se infectar).

Os números evidenciam o êxito das ações ao longo dos últimos 12 meses e reforçam o desafio de manter a qualidade do serviço. As experiências vivenciadas e os resultados do trabalho da clínica confirmam a necessidade desse projeto, diante da situação epidemiológica da Região Metropolitana do Recife, especialmente em relação à sífilis.

Por isso, é importante reforçar a importância de manter relações sexuais protegidas, fazer o teste em caso de dúvida e, se der positivo, seguir o tratamento à risca, para preservar a sua saúde e a de suas parcerias sexuais.

* Beto de Jesus é ativista pelos direitos humanos e diretor da AHF Brasil.